sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A Trilogia do Pão d'Alho

Três mulheres, três gerações... Duas fatias de pão de alho com queijo, mais duas de pão de alho com bacon... e ainda mais duas de pão de alho com tomate cherry. Perguntam-se porque razão os homens as desapontaram tanto... seria o choque de culturas? De mentalidades? Ou apenas uma questão de... mau hálito????

sábado, 27 de outubro de 2007

O Escafandro e a Borboleta

Começamos por pensar que os milagres da medicina nos proporcionam um Inferno ao prolongar-nos a vida. A primeira frase que o narrador consegue soletrar seleccionando as letras do alfabeto com o piscar de um olho é: - Je veux mourrir. - Ajeitamos o rabinho na cadeira como quem espera que o filme trate sobre a eutanásia, com um final misericordioso. Mas não, o facto é real e na realidade falamos menos e conhecemos menos, os casos em que o debate não é sobre a escolha entre a vida e a morte mas sim sobre o aprender a viver uma não-vida tal como a concebemos. De cereza que imaginamos a nossa própria morte, umas vezes mais trágica, outras mais doce e edificante, mas nunca, nunca a imaginamos como humilhante, numa posse torcida e babada. Mesmo se nos imaginarmos incapacitados, imaginamo-nos direitinhos, inexpressivos, rosto inerte e em paz, até com uns quilos a menos e mais esbeltos.
Afinal, os milagres da medicina não antecipam o Inferno, impedem-nos de aceder de forma instantanea ao paraiso tal como o concebemos, sem remorso, sem dor e belo. Com o prolongamento da vida, talvez nos estejamos a habituar a ter uma segunda oportunidade para nos tornarmos melhores pessoas, para aprendermos a ter beleza interior num corpo distorcido e sem vontade própria, procurando o que de melhor há na nossa memória e na nossa imaginação, reféns de um escafandro libertando uma borboleta.

domingo, 14 de outubro de 2007

Está aí alguém?...Talvez...

Pergunto-me se está aí alguém, mas ninguém responde. Provavelmente está... ou talvez não. As palavras dançam como uma bailarina num ginásio abandonado, sem música, sem audiência. Foram lançadas pelos ares, umas com uma graciosidade de menina, outras num arremesso de colera que só um animal selvagem enjaulado consegue exprimir. Penso duplicar-me para me acompanhar, para me responder a mim mesma. Talvez... Como quando brincava em pequena, fingindo longas viagens em combóios que nunca tinha visto, apertada entre a bagagem, abraçando a minha galinha de estimação no colo, embrulhada numa manta. A viagem nunca terminava, pois naturalmente o seu único destino era dali para longe, muito longe, tão longe que nunca soube para onde. Ou quando rebolava na erva fresca e húmida na Primavera pelo declive do quintal. Aquele quintal era o mundo, redondo e tudo. Tentava rebolar até cair no outro lado, só para ver o outro lado do mundo. Talvez o outro lado do mundo fosse como os espelhos em que me olhava e me procurava, tentando descobrir se aquela era a mesma ou outra. Aquela que eu encontrava sempre que me tentava lembrar de mim mesma o mais no passado possível, encontrando na memória uma estrada de curvas sinuosas, rodeada de árvores e escuro, muito escuro...

domingo, 23 de setembro de 2007

São as noites de Lisboa

O autocarro semeado de gente, entre eles uma distância de segurança e de classe. A mulher gorda e desgrenhada com cheiro a lixivia nas mãos, senta-se nos bancos da frente a ler uma qualquer revista de telenovelas. A colega, mais nova, também com cheiro a lixiva, tenta conversar do banco de trás...
Nos bancos perto da porta de saída, estão dois homens com cheiro a rua, cabelos sebosos, barbas sem memória da última vez que foram feitas. Um está calado e com vontade de se manter assim, o outro porém não deixa, vai sempre fazendo perguntas no meio do discurso para se certificar que é escutado com atenção. Conta que um segurança lhe bateu, atirou-lhe um caixote de lixo deixando-o ferido durante meses. Sem parar a conversa, sai do autocarro na mesma paragem que eu.
No céu vêm-se os raios que iluminam por breves instantes a cidade em estado pré comatoso. A chuva começa a cair irregular, a medo, conquistando rapidamente confiança com os corpos que apanhou desprevenidos. As poucas pessoas que estão ainda na rua, abrigam-se nos toldos dos cafés quase a fechar, correm por debaixo das varandas.
A meio da avenida vejo coletes reflectores, um deles tem uma câmara de filmar, apontam para a porta recolhida de uma loja da moda, iluminam o corpo deitado, coberto com papelão e trapos velhos... Os outros fazem perguntas, ouvem, distribuem sopa e sandes...
Passei rapida pelo cenário, espreitando o momento de glória daquele dono da cidade. A loja podia ser a de todas as meninas com boas mesadas, mas o abrigo, a cama, era dele. Quem tirava partido da arquitectura da entrada da loja era ele, e não os saltos altos que a atravessam durante a hora de almoço.

domingo, 16 de setembro de 2007

O gato O gato negro enrola-se em si mesmo, na sua negrura. Dorme e sonha negros sonhos. Satisfeito com a sua vida de ausência de cor, na certeza que irá acordar apenas para mudar de posição, lamber as próprias patas com carinho, mergulhar de novo na escuridão do sono e dos sonhos. O gato negro podia não ser gato, podia ser gente, com cor ou sem ela, se é que é permitido atribuir cor às gentes. Acontece que escolheu ser gato, com o privilégio de escolher a cor. Escolheu ser negro, apenas negro, para se confundir com a noite, com a ausência de luz. Da mesma forma, escolheu ser gato e não outra coisa qualquer, apenas um gato. Os gatos escolhem os donos. O gato negro foi escolhido e não se importou. Durante o dia vagueia pelos telhados da cidade, espreita as gentes que passam a correr lá em baixo… pequeninas, aquelas gentes. Não precisa de apurar muito o seu ouvido para perceber que os seus corações batem a mil à hora, sem terem sequer consciência dessa batida. Quando chega a noite, regressa a casa do dono, onde bebe água fresca, mastiga ração seca ruidosamente, lava-se e por fim deita-se. Se lhe quiserem fazer uns carinhos pelo meio aceita, senão, o carinho que dá a si próprio basta-lhe para se sentir feliz. Cuida-se e isso fá-lo sentir-se bem. Um dos seus sonhos preferidos é com o Sol. Sonha que o Sol é uma gata enorme, quente, brilhante, que o abraça e se deixa possuir vezes sem conta, sem dor, sem aquela dor com que as fêmeas se costumam fazer pagar por escassos momentos de prazer. Sonha que possui o Sol durante um tempo sem fim, com prazer continuo, regular, como um êxtase que não começou nem acabará nunca… e sorri levantando os bigodes. (to be continued...)

Skhízein...

Processo filosófico através do qual se parte dos efeitos para as causas... Este blog é sem dúvida um efeito de uma causa que não vou revelar para já, um dia espero entender. Esquizo podia ser outro nome para este blog...dualidade, divisão...