terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bodas de Ouro

Faria hoje mais de cinquenta anos que casaram, no verdadeiro e pleno sentido da palavra. Recuso-me a fazer as contas: no último ano vivos comemoraram discretamente os cinquenta anos, depois disso, recuso-me a contar. Já não faz sentido contar o tempo, neste dia continuarão sempre a fazer cinquenta anos, boda de ouro eterna!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Libera me domini...

Chega um dia em que o próprio sangue que nos corre nas veias nos odeia docemente. Sem aviso, faz de um passeio pelas veias uma corrida louca, o objectivo é o desgaste, o objectivo é ter uma única e definitiva paragem. Quem decide a meta? O sangue? A velocidade? As veias? A vontade? Não creio que seja a vontade, pois o dono do corpo não é ouvido na decisão final.Tudo o que possas dizer pode e será usado contra ti...

sábado, 1 de novembro de 2008

A medida de todas as coisas

A dimensão do meu corpo mede-se pelas mãos dos outros. Através do toque percebo que existo, asseguro-me que ainda me corre o sangue nas veias. Mais do que a mão de quem me toca, sinto o sangue a correr-me pelas veias... afinal. Mudo de assunto, recuso o prazer de estar viva e o facto de ser mulher. Afinal só o sou porque em tempos mo lembraram. Fecho a porta em silêncio e não volto. Nunca mais.

domingo, 19 de outubro de 2008

Celofane

Mr. Celofanne Man... Os dias passam e a transformação instala-se. Não percebemos, mas fomos ficando "celofane" transparente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Meia - idade

Metade da vida é uma etapa importante. Tão importante que nós próprios não sabemos quando a alcançamos. Ou então é algo tão deprimente de se alcançar que nem somos informados...tipo "segredo de justiça", no interesse dos bons costumes. No entanto, chegamos a uma certa idade em que já não temos dúvidas de que metade da vida já se foi e ficamos mesmo danados porque não houve uma alminha que nos avissasse, um alerta, ou um pop-up com o aviso. Nada. Só aquela sensação abstracta de não termos ainda chegado a lado nenhum e o receio bem fundamentado de que provávelmente não chegaremos lá nunca. Só alguém de "meia-idade" nos pode confrontar com a terrivel pergunta que se responde a si mesma: " - Mas por que raio meteste na cabeça que a vida tinha que ser alguma coisa especial?" De facto, a vida não é nada de especial, não é nada mesmo. A vida são as pessoas que nos lembram que estamos vivos, que nos fazem sentir especiais, que são especiais...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

21 gramas As nuvens estão pesadas, a atmosfera está prestes a ceder, resiste com um bafo quente e húmido, fazendo parar a vida aqui na terra. Na quietude que antecede a tempestade, a vida ganha mais peso, torna-se dificil suportar este peso pela noite fora, pelo dia sem fim... Sei porque trago a vida às costas, mas não sei como torná-la mais leve... aceitando o engano e vivendo apenas com a alma? Dizem que só pesa 21 gramas...

domingo, 8 de junho de 2008

Saudade

"Triste de quem não tem, na hora que se esfuma, saudades de ninguém nem de coisa nenhuma." A.Gedeão

sexta-feira, 25 de abril de 2008

"Oh! Pedaço de mim... Oh metade arrancada de mim..." Crescer é arrancar algo de nós mesmos, ir buscar forças que desconheciamos. O teatro ajudou-me a crescer, ainda hoje me ajuda. O mais importante que aprendi foi a responsabilizar-me pelas minhas decisões. Afinal a vida não passa de um imenso palco onde os mesmos que representam se observam, um palco cujo público é um enorme espelho onde nos julgamos a nós mesmos, onde nos iludimos na nossa incapacidade de julgar os outros. O mais importante foi tomar consciência, ao tomar uma decisão, do olhar dos actores que connosco estão em palco, duplicados pelos olhares reflectidos no espelho, público que nos observa. Esses olhares vão esperar a nossa actuação e nada mais se movimenta naquele palco expectante enquanto não actuarmos. A implicação de desistir da nossa actuação é o caos em todos os que nos rodeiam e a consequente ausência de credibilidade que passa a pairar sobre as nossas futuras decisões. Coerência passa a ser um modo de vida, não entre nós e os outros, mas dentro de nós próprios. De inicio tive muito medo de crescer, por vezes pânico ao ver que os que me rodeavam não me acompanhavam, não partilhavam as minhas acções nem os meus receios. Consequência inevitável de crescermos rodeados de já crescidos. Ainda não cresci tudo, só no momento em que encarar a própria morte parará o meu crescimento, só nesse dia poderei afirmar: Filhos, foi até aqui que consegui chegar. Filhos, cheguem mais além.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

(Des) Angústia para o jantar

"No fundo, todos estamos sós... irremediavelmente sós" Nunca consegui esquecer a forma como "irremediavelmente" era dito... ali, na boca de cena, sob o calor intenso das luzes que me cegavam. Esqueci o nome da peça, esqueci o guarda-roupa, mas a frase ficou sempre gravada na minha memória. Associei a frase a angústia (Angústia para o jantar?) e foi com esforço que a senti. Hoje está à flor da minha pele... irremediavelmente sós... Hoje não lhe vejo angústia, mas apenas uma constatação racional da vida. Não há nada a discutir, estamos mesmo sós: no primeiro folego da vida, na dor de crescer, no alivio da morte. No fundo, nos momentos mais importantes da vida, estamos sós. ... e tem que ser mau?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sol Nocturno

Ele há dias assim... Falas e não te ouvem, olhas e vêem através de ti como se fosses de vidro transparente. Falas uma lingua e outra é ouvida, respondem-te numa terceira lingua sem sentido. Gritas e não emites um som, corres sem sair do mesmo lugar, olhas o cimento e vês oceanos. Ele há dias em que a noite não acaba nunca e lembro-me de uma frase de caligrafia embriagada sobre uma parede de estuque apodrecido: Quem me dera que o Sol desta noite dure sempre!

sábado, 19 de janeiro de 2008

A dor (in)visivel

A nossa dor doi mais quando não encontra um rosto em que se espelhe. Dói ainda mais quando vê alegria, quando todos te desejam um dia especial. Os supermercados estão cheios, os carrinhos levam coisas especiais para casa, para festejar um dia especial. Olhas para ti e o que vês é dor... Só consegues distrair a dor pensando se os que se encontram na fila da caixa têm noção de que afinal, todos mereciamos que todos os dias os carrinhos de compras fossem recheados com tanto cuidado. Cada peça que lá se encontra foi colocada com um único pensamento: É um dia especial, pois que haja do melhor! Um dia não são dias! Ninguém tem pressa de dormir... de copo na mão todos fazem tempo e esperam que o relógio marque o momento da explosão de todas as alegrias que não foram reveladas durante o ano. O Chico não esperava pela meia-noite. Levantava-se do sofá, em passos largos e calmos, como os ponteiros do relógio, abanando os braços para trás e para a frente anunciava: - Cá o Chiquinho vai-se deitar. Muito boa-noite e bons sonhos! - Dizia-o com um sorriso trocista, dirigia-se ao quarto com tranquilidade e deitava-se com gosto.Acredito que se ficasse a rir de nós... Foi sempre assim e ha-de ser sempre assim. O Chiquinho não esperou pela meia-noite, despediu-se com o seu sorriso trocista e todos os dias o recordo com carinho e admiração: Pai.