sexta-feira, 25 de abril de 2008

"Oh! Pedaço de mim... Oh metade arrancada de mim..." Crescer é arrancar algo de nós mesmos, ir buscar forças que desconheciamos. O teatro ajudou-me a crescer, ainda hoje me ajuda. O mais importante que aprendi foi a responsabilizar-me pelas minhas decisões. Afinal a vida não passa de um imenso palco onde os mesmos que representam se observam, um palco cujo público é um enorme espelho onde nos julgamos a nós mesmos, onde nos iludimos na nossa incapacidade de julgar os outros. O mais importante foi tomar consciência, ao tomar uma decisão, do olhar dos actores que connosco estão em palco, duplicados pelos olhares reflectidos no espelho, público que nos observa. Esses olhares vão esperar a nossa actuação e nada mais se movimenta naquele palco expectante enquanto não actuarmos. A implicação de desistir da nossa actuação é o caos em todos os que nos rodeiam e a consequente ausência de credibilidade que passa a pairar sobre as nossas futuras decisões. Coerência passa a ser um modo de vida, não entre nós e os outros, mas dentro de nós próprios. De inicio tive muito medo de crescer, por vezes pânico ao ver que os que me rodeavam não me acompanhavam, não partilhavam as minhas acções nem os meus receios. Consequência inevitável de crescermos rodeados de já crescidos. Ainda não cresci tudo, só no momento em que encarar a própria morte parará o meu crescimento, só nesse dia poderei afirmar: Filhos, foi até aqui que consegui chegar. Filhos, cheguem mais além.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

(Des) Angústia para o jantar

"No fundo, todos estamos sós... irremediavelmente sós" Nunca consegui esquecer a forma como "irremediavelmente" era dito... ali, na boca de cena, sob o calor intenso das luzes que me cegavam. Esqueci o nome da peça, esqueci o guarda-roupa, mas a frase ficou sempre gravada na minha memória. Associei a frase a angústia (Angústia para o jantar?) e foi com esforço que a senti. Hoje está à flor da minha pele... irremediavelmente sós... Hoje não lhe vejo angústia, mas apenas uma constatação racional da vida. Não há nada a discutir, estamos mesmo sós: no primeiro folego da vida, na dor de crescer, no alivio da morte. No fundo, nos momentos mais importantes da vida, estamos sós. ... e tem que ser mau?