domingo, 30 de agosto de 2009

Quando era criança passava horas a olhar um espelho. Virava-o de forma a ver a mesma coisa de ângulos diferentes, sem qualquer objectivo filosófico, apenas o de ver diferente e ajudar o tempo a passar. Colocava um espelho em frente a outro, tentando baralhar o objecto. Acabava por ver projecções de projecções de projecções... seria aquela sucessão o "infinito"? Concentrava-me nos reflexos, procurando o fim do infinito, recusando que algo tão grandioso pudesse ser percebido num simples objecto tão vulgar nos quartos de dormir de toda a gente. Quando achava que o tempo de brincadeira tão parva já se tinha esgotado, abandonava os espelhos, cansada por razão nenhuma.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Canção de embalar

Olho para ti e vejo a dor. Doi-te a vida, sem dúvida. As lágrimas lavam-te o rosto, tornando-o salgado e inchado. As púpilas cobrem-te o olhar e dominam. A cor dos olhos refugiou-se no interior de ti mesma, incapaz de iluminar tanto sofrimento. Ah e se o mundo não fosse assim? E se as pessoas fossem outras, se os rios se tornassem salgados e se as montanhas afinal fossem planas... como seria fácil escalá-las. As montanhas deixavam de o ser e a escalada perdia o sentido pois o caminho não te levaria mais alto, apenas mais longe.