terça-feira, 29 de junho de 2010

...de ninguém

Nunca disse "Meu amor", Porque não é de ninguém O amor é livre, Palavra infinitamente celebrada Visita cada um à sua maneira, Sem avisar à chegada Nem denunciar a partida Sem possuir, Domina, Torna-se o centro de todas as coisas Presente ou ausente Se fosse banida esta palavra, Extinguir-se-ia a chama dos poetas O que digo eu, se não digo "meu amor"? Não digo nada, não canto, Visto-me de aguarela e deito-me sobre a tela, Sendo de todas as cores, não sou nenhuma Apenas sou nada de ninguém

domingo, 27 de junho de 2010

Sonho de uma noite... de Verão?

Como se fosse Dezembro o nosso beijo fez-se abraço e o abraço fez-se amor Como se fosse Dezembro Ficámos assim, eu em ti e tu em mim As estrelas choveram em nós, marcando os corpos, sinais perpétuos de luz e de desejo E inventámos esta noite em que se fez Verão Corpos e almas, unidos em suor e lágrimas Como se fosse Dezembro

terça-feira, 22 de junho de 2010

O balão

Abraça-me. Agarra-me como se eu fosse um balão de hélio. Prende-me com um nó infantil sem nexo, para que te não fuja. Amarra-me, como a Ulisses, para não sucumbir ao canto das sereias Seduz-me, com o teu encanto, ofuscando a luz das estrelas Não sei se te fujo para elas, se me deixe tombar ... Morrerei, como o balão, ao esqueceres que te pertenço. Cativa-me... Só assim serei livre!

domingo, 20 de junho de 2010

O fim dos dias

Não quero que este dia acabe. Não por ser um dia especial, mas por ser um dia sem nada de especial. Alguém me disse: Porque raio achas que a vida tem que ser especial? Mete na cabeça que a vida é uma merda e por mais que te esforces, não encontrarás nada de especial... tudo se resume a uma boa queca! Não quis acreditar, todos os dias espero um dia especial, o dia começa, o dia acaba e... não se passa nada de especial. Ano após ano... Por vezes, o feitiço parece perder a força, eu penso: agora sim, tudo vai correr bem. Não quero que este dia acabe, nunca mais...Não quero mais dias!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A DOR. Há dias em que a dor me recorda que não tenho escolha, sou de carne e de osso. A dor instalou-se, vai-me mordendo o corpo como cão raivoso e sou eu quem lhe dá abrigo. A DOR rasga-me sem pudor, reduz o meu corpo a uma amalgama de sensações, a um latejar constante e a uma vontade louca de não estar aqui, numa ânsia de procurar um sitio onde me esconder.DOR DOR DOR DOR

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A tela da liberdade

Deixei de ver o vagabundo com a sua tela colorida. Abrigava-se numa porta de um prédio, protegia as tintas e os pincéis da chuva e do vento. Não me sai da memória... a dignidade, a cabeça erguida, o corpo grande e aberto ao mundo, o orgulho com que segurava os pincéis e coloria a tela. Aquele era o seu mundo, a sua vida, a sua razão. Quem não quiser olhar não olhe, quem não quiser admitir a sua existência, não admita, quem criticar o seu modo de vida, que tente fazer melhor: imprimir a própria existência numa tela que lembra as cores do mundo inteiro e questiona a liberdade de quem passa.

domingo, 13 de junho de 2010

I Love Paris

sábado, 12 de junho de 2010

um bocadinho do que escrevi ontem...

"As lojas estavam fechadas, no banco de jardim perto da paragem de taxis, já aguardavam pela ceia os sem-abrigo do costume. Tão cedo? Mal amanheceu! Talvez agora também distribuissem pequeno almoço nas carrinhas de voluntários. Isso era bom! Resolveu esperar pela abertura das lojas, só para entrar lá dentro e sentir o toque das roupas novas, o cheiro dos perfumes. Desceu a Guerra Junqueiro, e reparou que o sem abrigo que faz a cama junto à Zara ainda não tinha arrumado a "cama". Quando chegou ao fim da rua, a luz começou a escassear. Fez-se noite. Afinal a cama já estava feita. Na Almirante Reis, saiam dos autocarros mulheres com cheiro a lixivia, apressadas de regresso a casa. Em redor dos sem-abrigo, câmaras de filmar, pessoas com coletes reflectores a oferecer a única refeição: a ceia, composta do pão que mais ninguém quer comer e bolos fora de prazo. Desconcertada, voltou para casa, não sem parar na Praça de Londres por debaixo de uma árvore iluminada, aí parou, ergueu o olhar para contemplar as pequenas luzes, semi cerrando os olhos, só para se sentir parte de um firmamento onde não existe amanhecer."

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Hoje choveu e fez sol. As bruxas comeram pão mole. Festim macabro nas ruas molhadas, danças sem nexo. Feitiços foram lançados, fogo fátuo indiferente à chuva cegava quem os olhasse. O mundo escondeu-se, protegeu-se nos centros comerciais... Lá dentro livraram-se do dinheiro, encheram-se de inutilidades, compraram sorrisos, venderam angústias. Esqueceram a chuva, as danças de bruxas, o fogo fátuo e mesmo sem o olhar cegaram, O beijo que o Sol lançou às àrvores, devolveu o brilho às folhas, tremeram as folhas de prazer, acordaram as aves, E amornou a terra que se fez meu leito.

sábado, 5 de junho de 2010

Cio do amanhecer

Recordo o caminho do teu corpo e nele me perco. Saboreio o teu doce até se tornar sal. No aperto dos teus braços segredo-te o meu folego Dedilhas-me até ser eu própria as tuas mãos, desfazer-me no prazer que somos, Nesta Primavera em que me aqueces, serei a tua viola, o teu gemido de prazer, o teu fado vadio. Canta-me que me levas a voz, roubas-me os verbos e enches-me de vida!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Lucky Day

"Ladies and gentlemen. Harry's Harbour is proud to present, under the big top tonight. Human Oddities. That's right!" O palhaço multicores avançou para mim. Pernas curtas, tronco largo, cara pintada de vermelho e preto. Roupa de cetim vermelha, azul e branca. Ria-se. Ria-se de mim porque a esquisita era eu. Toma um ar sério, bebe um shot de vodka ao som de uma polka e fala: - Minha querida, tens tudo para ser tudo! Aponta uma cova de terra fresca no chão. Ao lado uma lapide tombada e inacabada. Continua, olhando nos olhos: - Mas não és! E ri, ao principio gargalhadas contidas até que as solta na sua plenitude - Mas não és! - Estas palavras são a sua gargalhada no mundo inteiro onde trompas e trompetes, realejos e gaitas de foles tocam em desalinho.