sábado, 31 de julho de 2010

Síndrome do coração partido

Podia deixar-me morrer neste abraço na frescura de uma noite de Verão, Soubesse eu que nos esperava mais uma vida Em tudo igual a esta, os mesmos desejos, os mesmos erros, a mesma dor Podia deixar-me morrer no teu abraço embalada no bater do teu coração atordoada no nosso doce odor Apenas pelo gosto de te sentir quando a minha alma se for...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Aprender a noite

Esta noite fez-se duas vezes: uma de Luz, uma de Som
silenciou-nos os sonhos
e os pesadelos
e o Milagre de ver o mar numa velha parede branca
Fez-se de céu e mar lambuzados de Luz
Fez-se de Música e espiritos inquietos Se não se atrever o Sol, A manhã seremos nós a fazê-la...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Olá fresquinho!

És tu! Aquele punhado de areia com que eu brincava na praia! As tardes, passadas a deixar-te escorregar por entre os meus dedos de criança, pequenos grãos coloridos, num todo claro, um branco indefinido. O gozo de nunca te agarrar, nunca te prender, ver-te regressar devagarinho ao areal... Amar-te é assim, o prazer de te sentir escorregar...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A ceia

Não durmo, dói-me a noite. Saio de casa em direcção a nada. O ar fresco queima-me as entranhas, os raros sons da noite estalam-me no cérebro como achas de fogueira. Entro num restaurante que nunca tinha visto, algum alivio como entrada: as luzes suaves, os odores a maresia, o som das ondas... Tropeço num menu abandonado: o prato do dia é morte súbita, recomendado pelo chef é a morte lenta acompanhada de paz e tranquilidade. Posso escolher a morte súbita, sendo prato do dia, está pronta a sair e não terei tempo de me aborrecer. Quando me for apresentado o prato, o espanto ficará no meu rosto, para sempre. Pode não ter um bom resultado final, ser lembrada com ar de espanto... no entanto, foi sempre com espanto que vivi: espanto pela beleza das coisas, espanto pela descoberta de que afinal tudo pode ser tão simples. Não me parece mal. Por outro lado, o prato recomendado pelo chef, a morte lenta, com paz e tranquilidade também parece uma escolha razoável. Desde que os condimentos não sejam exagerados, a dor, nem em falta, o discernimento. Mantendo a lucidez perante o prato apresentado, corro o risco de ficar com o medo marcado no rosto. Não mais do que o risco de morrer sorrindo, mergulhada nas recordações, perspectivando um futuro em que não estarei presente mas para o qual contribui à minha medida, vivido e saboreado pelos meus filhos, pelos meus amigos. - É servida? - um vagabundo toca-me no braço com uma sandes de pasta de atum. Acordou-me daquele sonho estranho. Sorri-lhe e agradeci, abracei-o no seu ar de quem já viu malucos para tudo, desprendido. Voltei para casa.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Lágrimas salgadas

As suas lágrimas procuram ávidas onde desaguar. Não lhe basta o rio, não lhe chega o mar. Abre-se de lamento e dor, sofre assim em grito mudo, sofre por Amor. O poeta não perde quem ama, na sua Alma vive-se para sempre. O sal do rosto leva-o o vento, Passeando a lingua pelos lábios, saboreio-o sem beijar.

domingo, 18 de julho de 2010

El Salvador - Prisão juvenil

O medo anda pelas ruas. Assobia no vento, leva consigo as dores choradas na noite. O medo, abraço macabro de orgulho e dor. Bala que penetra a carne, arranca as almas, num rasto de sangue e morte... porque sim basta. O medo anda pelas ruas. Num olhar, sem piedade, num esgar de prazer sádico, aprisionado em ódio. O medo, som indecifrável, três tempos numa valsa: Um tiro, um grito, um aplauso... violência de bairro, gratuita e morte... porque sim basta. O medo anda pelas ruas. O homicida salva o bando, o bando salva o bairro. O bairro salva o bando. Quem salva o homicida?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Memórias estrambalhadas

Faço uma poção: 1/3 de memórias, 1/3 de viagens que não fiz e um 1/3 de mim mesma. Agito, junto gelo grosseiramente picado, posso enfeitar com o teu olhar, lançar umas pitadas do odor que esqueceste nas minhas mãos, pó mágico e... Viajo Viajo à minha infância, às bandas desenhadas, minha companhia, Heróis solitários numa demanda de si mesmos, perdidos na luta pelo bem. Viajo numa selva onde se ouve sempre bater o coração da Terra. Viajo ao melhor amor que fiz, ao som da tua voz... à sede do teu toque. Tudo isto é o que sou, a demanda de mim em memórias assim... Estrambalhadas!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nós cegos, surdos e mudos

Conta-me dos teus Nós, desagua em mim a tua angústia. Desamarra - te do passado em mim, solta-te, grita! Submerge neste Rio que inventei para ti, ouve o silêncio, dos teus segredos. No fim... começa de novo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Tempo pergunta ao Tempo quanto Tempo o Tempo tem

Vejo o Sol esconder-se e lembro-me daquela tarde de Fevereiro, uma viagem inesperada, a caminho da morte. Levava-me o carro, sabia o caminho. O meu olhar preso ao pôr-do-Sol. Assolava-me a certeza assustadora de que a pessoa que me esperava nunca mais o veria, a suspeita de que na véspera ela não se lembrara de o ver uma última vez. Ver o Sol esconder-se por detrás dos montes verdejantes do Alentejo é algo que devia marcar a nossa despedida desta vida. É tudo uma questão de Tempo. Traiçoeiro passa por nós, mergulha-nos numa amnésia de si mesmo. Passamos o Tempo a "matar" o Tempo, quando afinal é o Tempo que nos mata e nos faz nascer. Não existem horas, meses nem anos, não conto assim o Tempo que passa pela morte, nem o Tempo que passa por nós. Não tenho idade, os meus amigos não têm idade: eu vivo, os meus amigos vivem. Única certeza que quero perpétuar, sem Tempo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Canto... do Cisne

Lamento de... nunca Ter-me perdido nos teus braços a caminho de Amanhã, a bordo de um passado sem memórias de ti Tatuado invisivel no meu corpo, o manto com que me cubro e me escondo de Mim Lamento de... nunca Ter viajado no céu pulando de Sol em Lua varrendo as estrelas pelo prazer do Caos Confundindo o mundo nas cores com que me cubro e me escondo de Mim Lamento de... nunca Ter-me perdido num campo de trigo

domingo, 4 de julho de 2010

Nunca aprendi a escrever

Escondo com a mão as palavras que escrevo Palavras que não quero ler porque se escrevem por si Dominam e Escrevem-me as palavras. Voltei para escrever, para quem quiser saber Quem sou... eu já não sei, não quero saber Semi cerro os olhos para as olhar sem ler Escondi-me na floresta verde, ri, chorei e alucinei Perdi-me na memória de um futuro inventado por mim Volto sim, vazia desaprendida de palavras, esquecida de ser amada

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Senhoras e senhores passageiros, neste momento sobrevoamos Casablanca"

Cidade branca, a milhas de altitude, a meus pés. Fantasia de Hollywood, história de amor em tons de cinza. Oiço uma melodia, num piano qualquer, num bar qualquer "you must remmember this, a kiss is just a kiss" Não, não é só um beijo, Um beijo é memória, Inesquecível Porque sim, Para sempre, Porque sim É mesmo assim: Irrepetível, sim