sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

a candeia

...

no caminho para casa
tombou do céu uma candeia

segredou-me: tudo passa

pediu-me que lembre a noite Cheia
em que a minha mãe me ofereceu à Lua

e apagando-me, fez-me sua

...

domingo, 25 de dezembro de 2011

choro

...


era uma vez - tudo se tornou era uma vez
um corpo feito pétalas de luz numa história inacabada


um sorriso fingido abraço que antes de ser se desfez...
era uma vez - uma lágrima de sal nunca chorada




"c'est trop facile de faire semblant"


...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

desinquietude

...
palavras de amor ressoam cuspidas

apagadas

corpos suados gritam na noite fria

rasgados

linhas do rosto por lágrimas esculpidas
  
a bofetadas

sobre o leito jaz o cadáver ainda quente

de uma mulher descrente
e usada

...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SO





Aperto o ventre contra a vedação precária. No fundo só o mar, as rochas lambuzadas pelo sal, sobras de maré. Ali arranco do peito em ferida as memórias e sou criança. Brinco nas traves do recreio da escola, entre cambalhotas e piruetas, olhando um mundo que desejava ao contrário. 
Na vertigem da queda segreda-me o vento em voz de poeta: aqui é onde pertences e a tua alma tropeça, onde " a terra se acaba e o mar começa"!

domingo, 20 de novembro de 2011

sem pé

...

qual o som das lágrimas reprimidas

serão elas ou eu impacientes em direcção ao mar

desenhos de  rios e afluentes nesta viagem em vão

onde não sei se me deixe embarcar ou apenas
AFOGAR

...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

fantasma de mim

Passeiam fantasmas
só se vêm a si mesmos, não sabem da existência... nem de uns como eles, nem de outros diferentes deles.

São só fantasmas
passam indiferentes, fazendo de conta um destino, uma razão para o caminho absurdo

Passeiam fantasmas
tropeçando nos vivos, bebendo as suas aspirações e pensamentos mais reles

Mas são só fantasmas
e resisto ao seu apelo, a tornar-me um deles

Fantasma no meu mundo

domingo, 23 de outubro de 2011

butterfly

 ...

mergulho na água e deixo-me dissolver 
levada pelo vento na caricia de um parto

sem amor

no som do silêncio o turbilhão permanece
e o dia sempre amanhece

sem mim

...

sábado, 15 de outubro de 2011

devolvida ao remetente

...

Não recebeste o último beijo que te mandei,
paira por aí, sem destino,carta perdida sem remetente.
Por vezes julgo ver-te, num rosto sem nome, num odor de semente
e estás perto, muito perto de mim.
Cruzas o teu caminho com o meu, na rua, por mero acaso. 

Só podes ser tu, noutro lugar, num tempo sem passado.
Procuro o teu olhar no rosto desconhecido, dou-te os lábios um beijo
e foges-me
ou nunca foste Tu.


...

sábado, 8 de outubro de 2011

a queda de uma estrela

Caiu-me uma estrela no colo.
Estremunhada, perguntou-me o caminho para o céu.
- Não sei, estrela... porque queres voltar ao céu?
Respondeu-me que era de lá que tinha vindo,era para lá que devia voltar.
Contendo as lágrimas contei-lhe o meu segredo: 
- Não há voltar, estrela. Mas há caminho, faz-se de sonhos, da vida que desenhas.
Não temas, aqui no meu colo és grande, vais crescer para além de ti mesma
e brilhar... sempre em nós.
(tentei acreditar)

sábado, 24 de setembro de 2011

O rouxinol...

Já sei cantar à rouxinol
Como o que mora no jardim
Atrevido, na tarde de Sol
A cantar para mim

O Sol disse disse
Enquanto o Sol brilhasse
Só brincasse só brincasse

A Lua assomou
Rouxinol cansado e com larica
Na videira poisou
Calhava mesmo uma uvita

Bicou uma baga
Cantando à videira, agradeceu
- Que grande barrigada!
A brisa morna o adormeceu


A Lua disse disse
Enquanto a Lua brilhasse
A videira trepasse trepasse

Acordou em sobressalto
A videira enrolou-se na pata
Cantou o rouxinol assustado
- Ai! Não sei que faça!

O Medo disse disse
E se cantasse, cantasse?
Alguém o ajudasse! Alguém o ajudasse!

Uma Fada que ali passava
O aflito passarinho libertou
O Rouxinol não cantava!
E a bela Fada chorou

Lágrimas de magia
Ensinando ao rouxinol nova cantoria:


A linda Fada disse disse
Enquanto a videira subisse
Não dormisse, não dormisse

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Noite Cega

Esmagada pela Luz fugi Fugi da cidade das pessoas fugi da memória de ti até se irem as forças e o ar Ventre esmagado contra o miradouro ofegante e Escura a Noite engoliu o rio de um só trago Cega absorta pelas sombras Pousa agora em mim e abraça-me - como tu em tempos - num aconchego quente e mudo levando-me a olhar mais longe lembrando-me uma lua Cheia lavada de lágrimas alumiando o nosso pequeno mundo sem contornos apenas redonda por que assim a imaginamos transbordante do prazer que celebramos.

sábado, 10 de setembro de 2011

a implusão de Paris

A figurante morreu
sem ser noticia Só ela o percebeu
tarde demais para assistir ao próprio Funeral
sem se aperceber do seu espectáculo finaL
- sempre soube que os aplausOs não eram para si -
tem agora a certeza que as palavRas foram ocas
e que as vezes em que foi usada não foram poucas
A figurante morrEu
fina, amachucada e transparente, desvaneceu
levou presos às roupas os sons de Sempre os sons de Amar
a certeza de Paris já não ser um lugar
de o espectáculo continuar
feito de actores principais
e de palavras que não sente nem entende
num mundo que não lhe pertence

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


"Que al menos tu recuerdo
Ponga luz sobre mi bruma,
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna."

C. Buika

sábado, 13 de agosto de 2011

só os sós

só os sós

se lembram que esta noite é de Lua

e engolem-na  no travo da amargura

só os sós
  
escondem o vagabundo

e o abraço na noite que os sufocou

só os sós

amanhecem ocos em corpo inútil e triste 

embaraçados em nós de prata

presos a nada

e sós

terça-feira, 9 de agosto de 2011

bolha

...

muito viajava, tonta, a menina Na sua bolha de espuma, soprada numa caninha. Vivia na bolha, a menina, e o seu mundo era rosa, azul e lilás e todas essas cores ao mesmo tempo Amigo, empurrava-a o Vento, num abraço , na fúria da brincadeira, quase a desfazia Tonta, a menina, viajou sobre os campos, viu cearas e papoilas, bailarinas do avesso Levou-a o Vento Suão para lá das cercas do seu quintal. A bolha de espuma cresceu, fez-se sabor de Sal - podia ser lágrima - não morasse lá dentro a tonta menina, não a tivesse levado o Vento a pousar sobre o mar. Fez-se bolha entre todas as deixadas esquecidas pelas ondas, sobre o areal.

...

domingo, 7 de agosto de 2011

peso sustentável

...

Adivinha-se descartável, sem retorno. Rodeada de efémero, instantânea.A vida passa por ela como o vento,
não olha para trás, não a leva, apenas despenteia os seus cabelos. A mulher fica, os outros partem. 
A mulher aguenta o peso da vida, os outros desfrutam da sua leveza... fingida de sustentável.

...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

recomeço

...

Manda-me um beijo do meio do oceano Lembra-me quando o céu e o mar se misturarem no horizonte
virando o mundo
ao contrário Manda-me um beijo sabor de algas e de sal Diz-me onde acabo desalinha-me faz-me 
de trapos
Faz ao mar as cinzas de mim Que do meu fim se faça recomeço Manda-me um beijo...

...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

desvanecer

...

Faltam-me as mãos para agarrar a vida faltam-me as forças para desenhar um sorriso sentido... e coragem para os dias amargos presos na garganta falta-me o calor nas noites gélidas... sobra-me o espaço em mim e a dor sobra-me a dor no despertar quebrado vazio e só um sopro que não sabe se me apaga se me reacende só a incerteza se posso escrever o fim da minha própria dúvida... não basta crer não basta chegar ao fim e esquecer de ser mulher basta desvanecer.

...

sábado, 16 de julho de 2011

grito

...
 
Sê vento e afaga o meu vestido. Diz-me que sou água e dissolvo-me em ti. Procura-me no teu olhar perdido, conta-me a história e a memória onde em tempos vivi. Grita-me que não fui, fiquei! Desenha-me rasgada nas tuas mãos... E no Grito que amo, sempre amei! Estranho sonho de ser feliz,  apenas na lembrança do melhor amor que já fiz.


...

terça-feira, 12 de julho de 2011

indefesa de mim

...

... e se inventar uma dança só minha... enleada no balanço das ondas do teu OLHAR? E se me deixar levar... as tuas asas de papel vão fazer-me voar? Se me contares uma história, se me cantares uma canção... poderei finalmente dormir e sonhar? Acordarei todos os dias, só o tempo de pintar um céu, ser tela nas tuas mãos e contemplar a alma que teima espreitar.

...

sábado, 9 de julho de 2011

da crueldade do silêncio

Soneto da separação (Vinicius de Moraes)

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.


De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."


Não há alcóol que desinfecte a ferida de ver distante o amigo próximo... nem sonho que devolva o que já partiu. Não há grito que abafe o silêncio da dor.
 
Que se abra a terra e se apaguem as estrelas!

Que chovam rochedos e se desfaçam os nós!

Que se removam os destroços e esqueçam as promessas!

Por fim, calem-me, cubram-me com uma manta velha e deixem-me vaguear .

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Existencialismo de m...

...
 
Sento-me no meu banco de jardim com vista para o Rio. Nada disto é verdadeiro.
Tudo o que me rodeia é muito pouco verdadeiro. Dissolvo-me na realidade, que se
fez menos sólida, mais poeira. Agarro-me à lembrança do que outrora comprei: automóveis, telémoveis, bebidas, bifes e fraldas... Desvanece-se a memória no fumo moribundo da beata esmagada sob os meus pés. Afundo-me nas minhas próprias cinzas. Como cinza sou varrida do forno onde se faz o pão que comes, cansado de fermentar. Como cinza sou lançada ao vento e até pareço partir.Tantos balões, tantas festas, promessas e beijos... e acabo dejecto no Universo, odor projectado ao Infinito.
 
...

terça-feira, 5 de julho de 2011

lápide

...

Gotejo sobre o meu próprio corpo distante. Sou sangue de ti, venoso, espesso e morno.
Aqueço a vermelho a minha nudez, prisioneira moribunda num corpo mármore. Faço-me palavra cravada na lápide. Muda e imóvel, assim me deixo morrer... devagar, vazia, exangue. O que espero? Nada. Quem espero? Ninguém. 


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domingo, 3 de julho de 2011

sem som

...

Acabei por enlouquecer. Ao meu lado vi o espelho derreter, tornou-se mercúrio de termómetro partido que o meu corpo já não aquece. Tentei apenas tocar-lhe, a medo e ao de leve. Absorveu-me, sôfrego. Tornei-me liquida, amorfa nos limites de mim mesma. Reflexo da minha própria imagem ausente. Juraria que  o telefone tocou, nas minhas mãos tornou-se escuro e mudo. Sei que tocou, tenho a certeza de o ter ouvido... só uma voz me conseguiria tirar do sonho onde me deixei encurralar. Porém, não foi nada, nem ninguém. Apenas mais um acordar febril.

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

ausência

...

Este dia ficou engasgado, não me amanhece. Parece um vinil riscado, apenas som que antes de ser se desvanece. A saudade rasga-me a voz e inventa-me odores, histórias e trocas de olhares. Lembra-me a dança começada na nossa cama, os segredos enleados nos lençóis. É este dia que me agasalha a memória e o amor a fazer quando se acabar a ausência.

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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Prognóstico muito reservado

...

Este blog esteve "morto" durante cinco dias. Mea culpa: quis ver como ficava o mundo sem as minhas parvoíces. Felizmente ninguém deu por nada, o Sol continuou a girar e a Lua a seguir o seu ciclo influenciando as marés. A minha maré está vazia. 

"Na manhã em que me levantei para começar este livro tossi. Algo estava a sair-me da garganta, a estrangular-me. Rasguei o cordão que o retinha e arranquei-o. Voltei para a cama e disse: Acabo de cuspir o coração." Anais Nin (in A Casa do Incesto)

...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

ausências

...

não ouso adormecer

não ouso respirar

não vá o rio em que me deito secar

ou os sonhos que me abrigam perecer


sem dormir não há acordar


um sopro teu e apagas as estrelas

- salpicaste-as tu em mim -

um segredo teu e oiço a canção

a voz doce da tua inquietação

- adormecendo, cedo por fim -

não só de noite se fazem trevas

- Sol e Lua podem eclipsar -

também de ausência se faz amar
...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sonho entre sonos

...
Existe um sonho entre os sonos, nele vivo num circo sem feras. Sou trapezista
e não há rede. Tenho público e silêncio, suspenso pelo instante seguinte.
Na arena brincam os palhaços, tocam os músicos, rufam tambores. Agarro a corda,
vai levar-me ao outro lado, ou quebrar-me. Já não dançam as bailarinas e os
músicos páram de tocar. Olho o público. No sonho que sonho entre os sonos,
encontrarei o teu olhar? Saberás que é dele que preciso para voar? Estará este sonho
a acabar? Fecho os olhos e mergulho, não encontro o fundo mas... vejo-me noutro sono.
Uma amálgama de carne e ossos fica estatelada na plateia, as luzes fogem do local,
os músicos afinam os instrumentos, as vozes afinam-se - Dá-me um Lá! O espectáculo não pode parar,
e eu procuro outro sono onde me possa refugiar. Saio à rua, fresca, de banho tomado. Passo pela
florista:- Menina, hoje chegaram margaridas! Aceno e agradeço.
Ainda antes de acordar me lembrei do som que fez a jarra ao quebrar.
...

domingo, 12 de junho de 2011

A era da Casa das Heras

...

 Além é a Casa das Heras. Um velha casa abandonada, coberta de heras,
onde se diz que aparece uma Fada. Muitas crianças a viram. Uma Fada que
aparece, nua, a pentear-se. O seu vestido são os cabelos de ouro, longos, longos... o pente de
madrepérola. Quem a viu ficou encantado.
- Encantado? Que é isso?
A beleza da Fada era tal que quem a viu nunca mais conseguiu ver
nada mais belo. Quem a viu passou a viver de meras lembranças de beleza.
Com o tempo, uns achavam que as lembranças se tornavam cada vez mais
belas, passaram a ter um olhar deslumbrado, um sorriso constante.
Outros deixaram a lembrança desvanecer-se, perdeu-se a beleza da visão
nos labirintos da memória,passaram a viver tristes, e nada que pudessem ver,
por mais belo que fosse conseguiria reavivar a lembrança do que em tempos puderam
contemplar.
- E a Fada, ainda aparece?
Porque não havia de aparecer? É o seu Fado.

...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

viver de amor

"Mourir d'aimer
De plein gré s'enfoncer dans la nuit
Payer l'amour au prix de sa vie
Pêcher contre le corps mais non contre l'esprit"
Charles Aznavour

... assim morro cada segundo que vivo, assim me apago e desvaneço no mundo. Dou a minha vida por um instante de amor, roubo-o ao corpo para o devolver à vida. Saciado e em liberdade.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

cinzas às cinzas

...

deito ao vento as cinzas das minhas palavras

ardidas

cantadas por passaros de asas quebradas

almas perdidas

desfaço-me nas particulas dos meus poemas

queimados

apago-me das paginas de um romance falhado

em saldo

e os dias são agora noites escuras

passados vazios num jardim em rescaldo


...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

inodoro e indolor

...
 
Dormir e não acordar nunca mais. É no sono que esqueço o Só que
que sou. Em sonhos acredito e existo. Evaporo-me quando quero.
É em sonhos que pertenço ao mundo. No sono diluo o nada da vida,
o vazio dos olhares, a ausência da palavra. É em sonhos que o
silêncio me segreda: aqui jaz quem tudo sonha e nada tem, aqui jaz
quem ama a liberdade e é Só. Acordo em sobressalto privada de ar,
afinal não morri: não há cheiro de flores!
 
...

sábado, 4 de junho de 2011

XL

...

passam os dias

sem  o teu olhar
 

passam os dias

sem o teu cheiro de mar

o corpo perde a forma

faltam-lhe as mãos que o sabem moldar

o olhar perde a cor

falta-lhe luz onde mergulhar

passam os dias

quantos mais dias terei que te inventar?


...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

mar morto

...

ferida após ferida               golpe após golpe                 o tempo põe-se em fuga

perde-se a dor na alma            perde-se a alma no tempo                  e volta sempre

ferida após ferida                        golpe após golpe                 perde-se o sangue no choro

e lavo o rosto                  
 
perde-se o sal                               nas lágrimas         e faz-se aquele mar

onde não me posso afundar

porque volto                  sempre                 na ânsia de novamente  me afogar

...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

a cor do sonho

...
Hoje é tempo de inventar uma história. Uma história grande, maior
que eu, maior que um sonho. Pode ser a história de uma árvore.
Daquela árvore que dança ao vento. Pode ser a história de
um segredo.A história de um nó no seu tronco, crescido no tempo.
Daquela caravela que se fez ao mar com os seus marinheiros e
enfrentou a chuva e a trovoada, dentro de uma garrafa de vidro
transparente. Da menina de loiça que lá vivia
e era a minha bailarina cor de mel. De como naufragou e se salvou...
na minha história feita barco de papel.

...

domingo, 22 de maio de 2011

o ab(surdo) que (ab) sinto no salto






a fúria desmanchou a linha do horizonte

é  céu e  mar que se desvanece

absurdo de morte e vida que perece

 hoje a escolha não é ficar

hoje a escolha é abrir os olhos

e saltar

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Palavras roubadas de uma foto

...

onde o arco-iris se acaba há histórias e sonhos
encantos, segredos 

e nomes de amantes esquecidos
onde o arco-iris se acaba guardam-se os amigos
sorrisos, abraços

e versos sem rima fingindo-se poema
onde o arco-iris se acaba começa o aconchego

e a embriaguez de seda
onde todo o nosso amor se aninha


e nada termina 


...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lugares

...

Não há esquecimento que se apague na fogueira de nós
nem saudade saciada em sonhos partilhados.
Há sempre um lugar onde somos a mesma pele,
aquele lugar que trazes na tua voz.

...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

De tudo e de Nada

Sim, saudades do futuro, do que ainda não vivi e provavelmente não vou viver. Sim, saudades de esperar a companhia certa para fazer o caminho, quando afinal o caminho se faz sozinho. Sim, saudades do futuro por descobrir num mar onde já não mergulho. Saudades de tudo numa vida feita de nada.

será que me vou deixar acabar assim?

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Primavera vazia

vazia

sem terra sem mundo

ergue-se a voz

em busca de um futuro

vazia

na saudade de nós

ergue-se uma força

em busca do tempo

vazia

na distância das noites

ergue-se o desejo

em busca do corpo


desfeito

domingo, 8 de maio de 2011

digitinta

...

escrevo-te sobre um muro
em pinceladas de sangue
tatuo-te no corpo
em lágrimas coloridas
 És-me tudo!

...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Das palavras que me faltam

...
não luto mais contra a corrente
a maré que me leve, as águas que me afoguem
este porto a que cheguei não é o meu
forasteira no corpo que o teu esqueceu
cadáver, as águas que me levem
que me larguem nas areias, esquecida
não luto mais contra a corrente
pois já estou 
perdida

...

sexta-feira, 15 de abril de 2011





parti
essa imagem nos teus olhos já não é a minha
é a indiferença da despedida 

e essa tremura roubada
de filme de pelicula partida

domingo, 10 de abril de 2011

cronos

...

um tempo para escutar

para ensurdecer no silêncio
e desfazer-me na solidão


uma noite para encantar

para celebrar o desejo
e desvanecer-me na inquietação


um momento para quebrar enredos

para lutar contra os medos
saltar no vazio e aprender a voar


(menos de um segundo!)

para voltar... ou ficar
e ser eternamente... errante ou vagabundo
...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

a solo

...


Choro Não verto uma lágrima mas choro Um choro
que vem de dentro que vem de tudo Dói-me não chorar e
choro por não chorar

Grito Não emito um som mas grito Um grito
vindo do fundo de mim feito de nada Grito sem gritar
e grito por não gritar

Amo Mesmo sem ser amada amo Um amor vindo do fim do tempo
feito de tudo feito de nada Amo sem ser amada sem chorar
sem gritar... SÓ por amar

...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

testamento vital

Vida, leva-me já que quero morrer
sei que ando por ver andar
basta de viver apenas por ver viver

Deixa-me fechar os olhos e não acordar
não receio o adormecer
temo uma vida inteira fingindo viver
 

sábado, 2 de abril de 2011

gare do silêncio

a viagem faz-se 
sem partida
sem chegada

é tornado, tempestade
furacão
é ferida
e beijo
carne rasgada

a viagem faz-se no silêncio
na palavra
inventada
e apagada

sem consoantes, sem vogais
desenhada
sobre espelhos
em estilhaços
de batons encarnados

e lágrimas
sobre os rostos inchados
sem sentido

sem partida

sem chegada

sexta-feira, 1 de abril de 2011

esperando


...
Espero. Começa o dia e espero. Espero que se cumpra o dia. Um sinal de que os sonhos da noite mal dormida não tenham sido em vão. Chega a noite e espero. Espero que se cumpra a noite. Viagem pelos sonhos de uma vida que não acontece. Espero, dia após dia, semana após semana, mês após mês... anos. Espero. Espero que se cumpra a vida e não dou por ela. Espero que se cumpra a morte e fujo dela. Espero em fuga. Espero em vão.
Afinal basta ser
mesmo sem saber
...

segunda-feira, 28 de março de 2011

...

pudesse eu afogar-me em ti e seria de água
e de orvalho na madrugada,
com que se lavam os corpos dos amantes

pudesse o tempo parar e fazer-se de futuro
e de letras desenhadas num muro,
onde que se conta o história de um poeta

pudesse a viagem nunca acabar e fazer-se a dois
morar num planeta com dois sóis
descansar nos teus braços numa noite clara


e inteira
...

domingo, 27 de março de 2011

chorinho de uma nota Só

...
choro
choro com gosto e porque gosto
choro porque foi o choro que me deu vida
choro porque sim
choro de fome, de sede, de frio
choro de calor, de sono, de falta de colo,
choro de medo de ir para a escola, de medo que o céu caia,
de medo da trovoada, da chuva e do barranco que tudo leva,
choro de tristeza, de saudade, de vazio,
choro de raiva, de desgosto, de frustração,
choro de amor, de emoção, de alegria,
de prazer e de dor,
choro por no choro achar conforto,
por no choro inventar os braços que me amparam
e me aquecem
choro por no choro ouvir,
o embalo doce e baixinho em voz de carinho
de uma viola esquecida e quebrada
o choro que me lembra que um dia fui amada

...

quinta-feira, 24 de março de 2011

lamento de um poeta triste

...

nas mãos de um poeta triste
guarda-se a história e os segredos, fazem-se silêncios
respira-se o passado que não se fez e o futuro
que não sabemos se acontece
nas mãos de um poeta triste
esconde-se a ave escorraçada do ninho, foge-se do tempo
da amargura do espaço,  dá-se o que nunca se deu, secam-se
as lágrimas antes de serem choradas
nas mãos de um poeta triste
amordaça-se a dor, solta-se o desejo de mais calor,
libertam-se os laços que se fizeram amarras,
e são quatro mãos em silêncio que se esmagam
e são quatro lábios que se mordem
celebrando o seu sabor
...