sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

anel de latão

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ofereci-me
 
um anel

nada de mais, só para que mo dispas
no calor das nossas caricias

ofereci-me

 
um anel
velho, de latão, sem valor
brilhará ao fazer-se de amor

ofereci-me


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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

dia mal dito

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sentada no banco de jardim desafio o rio ao longe
posso esperar o tempo tenho todo o tempo nada me espera
espero no silêncio e na cinza dos dias
- Que o rio galgue a cidade! Que me devore!
e volte por fim ao seu leito que me leve para o seu leito de lodo
com todas as coisas irreconheciveis irreclamadas e inuteis
encontradas no caminho putrefacto
nada me espera nada me trará de volta
e o banco de jardim não dará pela ausência
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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

de uma palavra emprestada

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Por vontade expressa em pleno acto
(de) o Amor
foi cremado
a cerimónia fúnebre celebrada
feita grito, lágrima, gargalhada
as cinzas lançadas ao vento
prece eternamente repetida
fez-se brisa
fez-se nuvem, chuva, rio até ao mar
fez-se fértil coral
não saberei                                        QUAL

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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Lugar

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Existe um lugar
Perto de tudo e longe do começo
Onde me escondo e desvaneço
Um lugar
Apagado no mapa e perdido em cada olhar
Onde vive a indiferença e a solidão
Um lugar
Indicado por uma bússola sem norte
onde se tocam fanfarras e se estendem tapetes
e se aplaude a chegada da Morte

 e o Mar? Onde fica?

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sentido sem Sentido


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A chuva pergunta à chuva quanta chuva a chuva tem
A chuva responde à chuva que tem tanta chuva quantas lágrimas o vento tem

O vento pergunta ao vento quanto vento o vento tem
O vento responde ao vento que o vento tem tanto vento quanto mar o sal tem

O sal pergunta ao sal quanto sal o sal tem
O sal responde ao sal que o sal tem tanto sal quanto as minhas lágrimas têm

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ser (Es) de Tudo

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Pisas a areia fina branca quente És Areia
Fazes-te ao mar furando as ondas És Mar
Flutuas sobre o cardume de prata que passa És Peixe
Joelhos apertados junto ao peito sem respirar És Ar
Vais ao fundo de mansinho deixas-te ficar  És Cavalo Marinho
Ao longe vozes brincam e riem És Criança És Riso
Abres os braços espreguiças o corpo És Onda
O calor seca-te a pele a minha lingua toca-te És Sal
Os teus olhos brilham ao sol És Futuro
És Presente sem laço que desembrulho
És tremura És gemido És grito
És prazer És tudo És nada És ( em mim)

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sábado, 5 de fevereiro de 2011

queda livre

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falta-me
o Chão

falta-me no sonho
a Visão
do que sou Sou nada
embrulhada em mortalha
de Dor
e solidão
Sou queda desamparada
e livre
em Trapézio
sem rede

falta-me
o Chão
...