...
pudesse eu afogar-me em ti e seria de água
e de orvalho na madrugada,
com que se lavam os corpos dos amantes
pudesse o tempo parar e fazer-se de futuro
e de letras desenhadas num muro,
onde que se conta o história de um poeta
pudesse a viagem nunca acabar e fazer-se a dois
morar num planeta com dois sóis
descansar nos teus braços numa noite clara
e inteira
...
segunda-feira, 28 de março de 2011
domingo, 27 de março de 2011
chorinho de uma nota Só
...
choro
choro com gosto e porque gosto
choro porque foi o choro que me deu vida
choro porque sim
choro de fome, de sede, de frio
choro de calor, de sono, de falta de colo,
choro de medo de ir para a escola, de medo que o céu caia,
de medo da trovoada, da chuva e do barranco que tudo leva,
choro de tristeza, de saudade, de vazio,
choro de raiva, de desgosto, de frustração,
choro de amor, de emoção, de alegria,
de prazer e de dor,
choro por no choro achar conforto,
por no choro inventar os braços que me amparam
e me aquecem
choro por no choro ouvir,
o embalo doce e baixinho em voz de carinho
de uma viola esquecida e quebrada
o choro que me lembra que um dia fui amada
choro com gosto e porque gosto
choro porque foi o choro que me deu vida
choro porque sim
choro de fome, de sede, de frio
choro de calor, de sono, de falta de colo,
choro de medo de ir para a escola, de medo que o céu caia,
de medo da trovoada, da chuva e do barranco que tudo leva,
choro de tristeza, de saudade, de vazio,
choro de raiva, de desgosto, de frustração,
choro de amor, de emoção, de alegria,
de prazer e de dor,
choro por no choro achar conforto,
por no choro inventar os braços que me amparam
e me aquecem
choro por no choro ouvir,
o embalo doce e baixinho em voz de carinho
de uma viola esquecida e quebrada
o choro que me lembra que um dia fui amada
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quinta-feira, 24 de março de 2011
lamento de um poeta triste
...
nas mãos de um poeta triste
guarda-se a história e os segredos, fazem-se silêncios
respira-se o passado que não se fez e o futuro
que não sabemos se acontece
nas mãos de um poeta triste
esconde-se a ave escorraçada do ninho, foge-se do tempo
da amargura do espaço, dá-se o que nunca se deu, secam-se
as lágrimas antes de serem choradas
nas mãos de um poeta triste
amordaça-se a dor, solta-se o desejo de mais calor,
libertam-se os laços que se fizeram amarras,
e são quatro mãos em silêncio que se esmagam
e são quatro lábios que se mordem
celebrando o seu sabor
...
nas mãos de um poeta triste
guarda-se a história e os segredos, fazem-se silêncios
respira-se o passado que não se fez e o futuro
que não sabemos se acontece
nas mãos de um poeta triste
esconde-se a ave escorraçada do ninho, foge-se do tempo
da amargura do espaço, dá-se o que nunca se deu, secam-se
as lágrimas antes de serem choradas
nas mãos de um poeta triste
amordaça-se a dor, solta-se o desejo de mais calor,
libertam-se os laços que se fizeram amarras,
e são quatro mãos em silêncio que se esmagam
e são quatro lábios que se mordem
celebrando o seu sabor
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domingo, 20 de março de 2011
to be continued
...
A mulher caminha no passeio, vai pelo lado do Sol. Vai em passo
de corrida, como se fugisse do passado e pela frente só
o presente.
Bata velha, feia, cheia de nódoas, entra no bar.
De pé, ao balcão, pede uma cerveja. Loura, a cerveja e o seu cabelo tingido
de pinceladas. Foge do homem que deixou na cama. Foge do homem com quem casou.
Nesse tempo era loura, como o corpo da cerveja. O homem agora apodrece em vida, de doença e álcool. - Mulher, anda cá que eu quero fazer a minha vida! - Ela ia, ele fazia a sua vida, de urina, de fezes, de ejaculações desastradas. Fez-lhe filhos.
A espuma da cerveja, branca, as raízes dos seus cabelos, brancos e castanhos.
Atraídos pelo nectar, os mosquitos rondam o copo gelado e brilhante. Tira um lenço de pano, branco e sujo. Limpa as lágrimas, bebe mais um gole. Tremem o lábios.
As mãos gretadas, impregnadas da lixivia usada na limpeza das casas dos outros.
- Casei por amor. Tanto que me avisaram para não casar com ele! E eu até era bonita...
Do fundo da rua ouve-se o grito do homem: - Mulher, anda cá que quero fazer a minha vida!
Ela foi, correndo. O copo da cerveja ficou, vazio, sobre o balcão peganhento. A espuma da cerveja morta, rastos brancos no copo sujo.
Os mosquitos acabaram a festa.
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sexta-feira, 18 de março de 2011
Engano
...
Olho uma vez mais as palavras e sinto que as roubo: não são para mim essas palavras. Eu não devia lê-las, muito menos escutá-las. Mas estão lá, para quem as quiser ler, para quem a quiser tomar a si. O seu brilho fere-me a vista, obrigando-me a desviar o olhar. Se as palavras não são de ninguém, para quem serão? Não há donos para as palavras, não há destino para as palavras: são ditas e mais nada. E o amor?
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terça-feira, 15 de março de 2011
Desassossegar
...
Basta um brilho, um olhar, um segredo inconfessável. Basta a pele no seu cantar e o eterno sabor do mel. Rompem – se as melodias, rasgam – se os panos. Atiça-se a fogueira, desalinham-se corpos e cabelos e
Enlaçam-se os dedos, na fúria de gritar!
E não passa o desassossegar e
não passa a tremura de te amar...
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segunda-feira, 14 de março de 2011
santuário
...
onde me escondo,
se de só transbordo?
onde me acabo,
se comecei sem começo?
qualquer cais me serve
quando a viagem é sem destino
qualquer corpo me cabe
na tremura da alma em desatino
não tenho bilhete
sou incógnita, clandestina,ilegal
invisivel
viajo no vento e nas marés
(trago areia colada aos pés)
sou do tempo que gastei
das noites que não dormi
dos amantes que não amei
antes que percebas que me escondi
parti
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onde me escondo,
se de só transbordo?
onde me acabo,
se comecei sem começo?
qualquer cais me serve
quando a viagem é sem destino
qualquer corpo me cabe
na tremura da alma em desatino
não tenho bilhete
sou incógnita, clandestina,ilegal
invisivel
viajo no vento e nas marés
(trago areia colada aos pés)
sou do tempo que gastei
das noites que não dormi
dos amantes que não amei
antes que percebas que me escondi
parti
...
quinta-feira, 10 de março de 2011
não quero estar aqui
...
sonho ruim
dias e noites sem fim
de que vale a vida se não sonhar
de que me servem as asas se não voar
noite escura
onde a dor perdura
de que vale o caminho se não correr
de que serve fugir se não para me perder
e viver sem viver
morrendo sem querer
...
sonho ruim
dias e noites sem fim
de que vale a vida se não sonhar
de que me servem as asas se não voar
noite escura
onde a dor perdura
de que vale o caminho se não correr
de que serve fugir se não para me perder
e viver sem viver
morrendo sem querer
...
sábado, 5 de março de 2011
vazio
tempo vazio
entre a dor e o silêncio
entre a cegueira e a mudez
onde me dispo
gasta-se o futuro
perdem-se as palavras e os sonhos
da memória faz-se um muro
tempo vazio
entre viver e fingir-se de vivo
entre os bastidores e o palco
onde me perco
rasga-se a carne
entre mortos e vivos fica o pó
levo o caminho sem regresso
onde fico
e já não sei se quero voltar
entre a dor e o silêncio
entre a cegueira e a mudez
onde me dispo
gasta-se o futuro
perdem-se as palavras e os sonhos
da memória faz-se um muro
tempo vazio
entre viver e fingir-se de vivo
entre os bastidores e o palco
onde me perco
rasga-se a carne
entre mortos e vivos fica o pó
levo o caminho sem regresso
onde fico
e já não sei se quero voltar
terça-feira, 1 de março de 2011
Soa
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Soa a sitara e violino Soa a brincar e namorar Esse riso de menino Em boca de beijar
Soa a búzio vazio Soa a saudades de mar Esse olhar perdido Em canção de embalar
Soa a sitara e violino Soa a amor pintado de dançar Murmúrio despido de gritar
...
Soa no peito o grito de Acordar
...
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