quarta-feira, 27 de julho de 2011

recomeço

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Manda-me um beijo do meio do oceano Lembra-me quando o céu e o mar se misturarem no horizonte
virando o mundo
ao contrário Manda-me um beijo sabor de algas e de sal Diz-me onde acabo desalinha-me faz-me 
de trapos
Faz ao mar as cinzas de mim Que do meu fim se faça recomeço Manda-me um beijo...

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

desvanecer

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Faltam-me as mãos para agarrar a vida faltam-me as forças para desenhar um sorriso sentido... e coragem para os dias amargos presos na garganta falta-me o calor nas noites gélidas... sobra-me o espaço em mim e a dor sobra-me a dor no despertar quebrado vazio e só um sopro que não sabe se me apaga se me reacende só a incerteza se posso escrever o fim da minha própria dúvida... não basta crer não basta chegar ao fim e esquecer de ser mulher basta desvanecer.

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sábado, 16 de julho de 2011

grito

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Sê vento e afaga o meu vestido. Diz-me que sou água e dissolvo-me em ti. Procura-me no teu olhar perdido, conta-me a história e a memória onde em tempos vivi. Grita-me que não fui, fiquei! Desenha-me rasgada nas tuas mãos... E no Grito que amo, sempre amei! Estranho sonho de ser feliz,  apenas na lembrança do melhor amor que já fiz.


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terça-feira, 12 de julho de 2011

indefesa de mim

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... e se inventar uma dança só minha... enleada no balanço das ondas do teu OLHAR? E se me deixar levar... as tuas asas de papel vão fazer-me voar? Se me contares uma história, se me cantares uma canção... poderei finalmente dormir e sonhar? Acordarei todos os dias, só o tempo de pintar um céu, ser tela nas tuas mãos e contemplar a alma que teima espreitar.

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sábado, 9 de julho de 2011

da crueldade do silêncio

Soneto da separação (Vinicius de Moraes)

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.


De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."


Não há alcóol que desinfecte a ferida de ver distante o amigo próximo... nem sonho que devolva o que já partiu. Não há grito que abafe o silêncio da dor.
 
Que se abra a terra e se apaguem as estrelas!

Que chovam rochedos e se desfaçam os nós!

Que se removam os destroços e esqueçam as promessas!

Por fim, calem-me, cubram-me com uma manta velha e deixem-me vaguear .

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Existencialismo de m...

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Sento-me no meu banco de jardim com vista para o Rio. Nada disto é verdadeiro.
Tudo o que me rodeia é muito pouco verdadeiro. Dissolvo-me na realidade, que se
fez menos sólida, mais poeira. Agarro-me à lembrança do que outrora comprei: automóveis, telémoveis, bebidas, bifes e fraldas... Desvanece-se a memória no fumo moribundo da beata esmagada sob os meus pés. Afundo-me nas minhas próprias cinzas. Como cinza sou varrida do forno onde se faz o pão que comes, cansado de fermentar. Como cinza sou lançada ao vento e até pareço partir.Tantos balões, tantas festas, promessas e beijos... e acabo dejecto no Universo, odor projectado ao Infinito.
 
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terça-feira, 5 de julho de 2011

lápide

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Gotejo sobre o meu próprio corpo distante. Sou sangue de ti, venoso, espesso e morno.
Aqueço a vermelho a minha nudez, prisioneira moribunda num corpo mármore. Faço-me palavra cravada na lápide. Muda e imóvel, assim me deixo morrer... devagar, vazia, exangue. O que espero? Nada. Quem espero? Ninguém. 


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domingo, 3 de julho de 2011

sem som

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Acabei por enlouquecer. Ao meu lado vi o espelho derreter, tornou-se mercúrio de termómetro partido que o meu corpo já não aquece. Tentei apenas tocar-lhe, a medo e ao de leve. Absorveu-me, sôfrego. Tornei-me liquida, amorfa nos limites de mim mesma. Reflexo da minha própria imagem ausente. Juraria que  o telefone tocou, nas minhas mãos tornou-se escuro e mudo. Sei que tocou, tenho a certeza de o ter ouvido... só uma voz me conseguiria tirar do sonho onde me deixei encurralar. Porém, não foi nada, nem ninguém. Apenas mais um acordar febril.

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

ausência

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Este dia ficou engasgado, não me amanhece. Parece um vinil riscado, apenas som que antes de ser se desvanece. A saudade rasga-me a voz e inventa-me odores, histórias e trocas de olhares. Lembra-me a dança começada na nossa cama, os segredos enleados nos lençóis. É este dia que me agasalha a memória e o amor a fazer quando se acabar a ausência.

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