sábado, 24 de setembro de 2011

O rouxinol...

Já sei cantar à rouxinol
Como o que mora no jardim
Atrevido, na tarde de Sol
A cantar para mim

O Sol disse disse
Enquanto o Sol brilhasse
Só brincasse só brincasse

A Lua assomou
Rouxinol cansado e com larica
Na videira poisou
Calhava mesmo uma uvita

Bicou uma baga
Cantando à videira, agradeceu
- Que grande barrigada!
A brisa morna o adormeceu


A Lua disse disse
Enquanto a Lua brilhasse
A videira trepasse trepasse

Acordou em sobressalto
A videira enrolou-se na pata
Cantou o rouxinol assustado
- Ai! Não sei que faça!

O Medo disse disse
E se cantasse, cantasse?
Alguém o ajudasse! Alguém o ajudasse!

Uma Fada que ali passava
O aflito passarinho libertou
O Rouxinol não cantava!
E a bela Fada chorou

Lágrimas de magia
Ensinando ao rouxinol nova cantoria:


A linda Fada disse disse
Enquanto a videira subisse
Não dormisse, não dormisse

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Noite Cega

Esmagada pela Luz fugi Fugi da cidade das pessoas fugi da memória de ti até se irem as forças e o ar Ventre esmagado contra o miradouro ofegante e Escura a Noite engoliu o rio de um só trago Cega absorta pelas sombras Pousa agora em mim e abraça-me - como tu em tempos - num aconchego quente e mudo levando-me a olhar mais longe lembrando-me uma lua Cheia lavada de lágrimas alumiando o nosso pequeno mundo sem contornos apenas redonda por que assim a imaginamos transbordante do prazer que celebramos.

sábado, 10 de setembro de 2011

a implusão de Paris

A figurante morreu
sem ser noticia Só ela o percebeu
tarde demais para assistir ao próprio Funeral
sem se aperceber do seu espectáculo finaL
- sempre soube que os aplausOs não eram para si -
tem agora a certeza que as palavRas foram ocas
e que as vezes em que foi usada não foram poucas
A figurante morrEu
fina, amachucada e transparente, desvaneceu
levou presos às roupas os sons de Sempre os sons de Amar
a certeza de Paris já não ser um lugar
de o espectáculo continuar
feito de actores principais
e de palavras que não sente nem entende
num mundo que não lhe pertence