quarta-feira, 29 de agosto de 2012

caixa negra

agarrei um sonho

guardei-o numa caixa pequena
                                                 forte
 a caixa
                                                             lindo
o sonho

beijei-o na despedida

fechei-o à chave
                                        em lágrimas
o adeus

                  de prata
a chave

rebola e tropeça

cego e trôpego
                                     o sonho
em mim

sempre

Cai nos precipícios
arrasta-se por calçadas
viaja pelos mares
no aconchego da caixa pequena

                                                        forte
a queda

resiste
não quebra
não solta
vive e respira assim
                                                                       em mim

sábado, 25 de agosto de 2012

meio sonho


sonhava sempre inteira

                                  com meias luas
nas noites escuras

estrelas em
                               vertigem
                 
              cadente

no conforto do seu delírio

                                      etílico

feita luz de luar

sonhava sempre inteira
                                    com meias luas

metades inteiras

domingo, 19 de agosto de 2012

eau de vie

...

não pertenço ao tempo
aprisionada na ausência
e
no silêncio
calo amores
amordaço dores
renego-me 
e
apago-me
como uma vela 
acesa para alumiar caminhos
incendiar desejos
tal
fogueira apagada
em mim 
consumida
no desencontro
eterno

...

porque não alcançamos o Sol?



terça-feira, 14 de agosto de 2012

desesperança

...

sentes
todos os dias metade do teu corpo se desprende de ti
e regressa
e de novo parte
todos os dias temes a partida
sabes
sim tu sabes
um dia 
essa metade de ti não voltará
dedos em sangue
unhas partidas
agarras
um rochedo inventado por ti mesma
e sabes
tudo se irá desmoronar
e dissolver
nem
a noite apagará a dor
nem
a música 
nem
as gargalhadas noctívagas fecharão a ferida
ardente

fica
o sangue entregue
bebido 
em orgasmo sôfrego 
derramado 
...



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

o índio e o cowboy

...


- Por que não podes vir brincar?
- Porque fiz um dói-dói no joelho.
- Mariquinhas!
- É grande! Olha!
- Ui... pois é! E dói?
- Pois dói! Queres ver? Toca lá!
Os dois amigos recuam de dor.
- Ui! Dói a sério!
  E passaram o resto da tarde juntos, a não brincar naquele dia... 

...

domingo, 5 de agosto de 2012

ver-se a noite

...

iluminadas pela Lua, as bandeiras de prece,
cavalos de vento
ganham forma de gigantes suspensos

miram-me

uma folha caída de um ramo de árvore
soa a gongos distantes

neutra

a Lua observa-me e aguarda

breve será a madrugada da apagada memória
breve será o testemunho
de eterno
do amor que por mim, ténue, passa
...