segunda-feira, 27 de maio de 2013

o sem hoje


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O mesmo corpo de sempre, à mesma hora, na mesma posição, coberto pelo mesmo oleado... não estivesse a policia a vigiar e os olhares de sempre passariam indiferentes.

A paisagem urbana foi alterada por qualquer força da natureza: hoje todos olham na mesma direcção.

A única diferença é que hoje, dois agentes tomam conta dele, protegem-no, não se sabe do quê... dos olhares absurdos? Não vá o homem ser incomodado ou a sua alma roubada.

Hoje, ele é importante e destaca-se na multidão,
ninguém sabe o seu nome, mas numa rua de vivos, é ele o morto!

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

vendaval

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é este tempo que me inquieta... e falta

feita de retalhos
costuro-me
no desenho desta viagem vazia

feita de vento
sem rumo, sem futuro
sou perdida

no lugar onde se acaba o tempo
sou de trapo

no tempo onde paira a última gargalhada
sou rasgada

e ainda sinto, no rosto

a bofetada

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domingo, 12 de maio de 2013

... im...


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de um sopro apaguei a Lua
e dormi
coberta de estrelas
cheiro de alecrim

sonhei que era tua
sem deixar de ser de mim
e de ti

livres
açambarcando o universo inteiro
neste nosso frenesim

porque a vida é hoje
o futuro agora
e o amor não se desperdiça assim

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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Voo

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voo

não sei o caminho
não sei onde me levo nem com que fim

mas voo

não sei se é a paz que desejo
se é a liberdade em que me transbordo
fugindo de mim e do que é corpo

faço-me fantasma do meu navio
carga bruta, morta e muda de mim

e voo

levada pelo vento
sou a carga, fardo desfeito do que não fui
o nó da corda que me liberta

do que não sou

e voo

e vou

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