sábado, 29 de junho de 2013

sem rede

...

Nasces e choras.
Perdes a conta dos dias de lágrimas.
Dos dias sem chão.
Perde-se o nome dos lábios dissolvidos no vinho que bebes
e desejas beijar.

Soltam-se as amarras que te impedem de voar
e renova-se a sede.

Irá despedaçar-se a marioneta?
Ou dançará nas nuvens, o trapezista sem rede?

...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

sem lua


...

Ouviu que se fez Lua.
Uma Lua grande e Cheia, rara de ver.
E fez-se Lua.
Pontualmente.

Banhou o mundo de luz, revelou na noite sombras de prata.

Tudo isto passou-se na sua imaginação, trancada no quarto mais escuro de si.

Sem olhos que a vissem, num grito mudo de dor, arranhou as paredes brancas.

Dedos em sangue, com eles desfez os contornos do rosto,
recordação esbatida de si,
o rosto que ninguém vê, esquecido nas andanças da vida,
perdido nas noites sem ciclo lunar.

Num tempo fora do seu tempo.

Desenhado, sem luz.

Muda, não se fez ouvir.
Cega de não ser vista.
Só não a abandonou a Lua que inventou para si e impossível de partilhar.
Abraçada pela solidão da sua loucura vã,
fez-se de lágrimas, de sangue, de vazio,
na noite de Lua extinta.

...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

à solta


todas as manhãs sonha um beijo

um beijo de acordar
murmúrio de vida
sem segredo
sem rosto, sem nome
um beijo apenas
feito de tudo o que se fazem os beijos
sem futuro, sem passado
um beijo de desejo
de não ficar

e soltar

a sede

e o sabor