...
és sangue a jorrar nas veias
abres caminho na carne.
Perdes-te nas pequenas teias
sem destino,
e esbarras na cauterização da ferida.
Olhas para ti, nua.
A cicatriz roxa atravessa-te a mama.
O vazio enche-te o olhar.
Sabes que se acabou o caminho.
Viras a página.
Já de nada precisas.
está o ciclo completo
posso agora partir
nada fica por acontecer
...
Skhizein
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
sábado, 29 de novembro de 2014
em vão
...
finalmente fugi
corri dia e noite
vestida de sombra
escondida
tão escondida de mim
do mundo
só uma lágrima se recusou secar
brilha ainda
no fundo do meu olhar
dá-me de beber
e à dor
seca-me a pele
salga-me o grito
estrangula esta angústia contida
como que tem garras
como que tem uma força imensa
um olhar raiado de sangue
bebe o meu último fôlego
despedaça - me os sonhos
até mais nada sobrar
os estilhaços são projectados
sem alvo
sem destino concreto
quem sabe,
para a estratosfera
quem sabe,
para lado nenhum
de mim
só
o sal da lágrima
e os sonhos vazios
...
finalmente fugi
corri dia e noite
vestida de sombra
escondida
tão escondida de mim
do mundo
só uma lágrima se recusou secar
brilha ainda
no fundo do meu olhar
dá-me de beber
e à dor
seca-me a pele
salga-me o grito
estrangula esta angústia contida
como que tem garras
como que tem uma força imensa
um olhar raiado de sangue
bebe o meu último fôlego
despedaça - me os sonhos
até mais nada sobrar
os estilhaços são projectados
sem alvo
sem destino concreto
quem sabe,
para a estratosfera
quem sabe,
para lado nenhum
de mim
só
o sal da lágrima
e os sonhos vazios
...
terça-feira, 23 de setembro de 2014
nu é
...
Uma madrugada, ainda nua, abri a janela e libertei O corvo.
Vi-o afastar-se no horizonte, até não ser mais que um ponto negro, até ser nuvem, sombra dos dias.
Não voltou para mim.
Vários o têm visto, dizem que continua negro, as suas penas brilhando ao sol, grasnando altivo: - Não preciso mais de ti. Não precisas mais de mim. Não tenho que voltar. Sou livre!
Sem esperar pelo seu regresso impossível, sem uma lágrima, vesti-me no meu vestido branco, saí.
E também não voltei. Não cantei, não gritei. Vestida, sou nua. Em silêncio. Sou livre!
...
Uma madrugada, ainda nua, abri a janela e libertei O corvo.
Vi-o afastar-se no horizonte, até não ser mais que um ponto negro, até ser nuvem, sombra dos dias.
Não voltou para mim.
Vários o têm visto, dizem que continua negro, as suas penas brilhando ao sol, grasnando altivo: - Não preciso mais de ti. Não precisas mais de mim. Não tenho que voltar. Sou livre!
Sem esperar pelo seu regresso impossível, sem uma lágrima, vesti-me no meu vestido branco, saí.
E também não voltei. Não cantei, não gritei. Vestida, sou nua. Em silêncio. Sou livre!
...
sábado, 16 de agosto de 2014
...
Não sabia de que se vestir
talvez de tristeza
com um toque de seda
não daquela seda lisa, domada
talvez de seda selvagem
vincos em desalinho
cantando a cada movimento do corpo
da que se faz percussão em noite de dança
perfumou-se
de solidão
o vestido sobre a cama, sem corpo
puxou os cabelos
talvez prendê-los
enlaçados em si mesmos
sem ganchos, sem brilhantes,
ou talvez soltos
selvagens como a seda
em desalinho a condizer consigo mesma
o vestido observa-a, sobre a cama, sem corpo
o espelho captura-a, atento, impávido
o seu corpo espera ordens, imóvel
podia desfazer-se naquele preciso momento
evaporar-se
deixaria no quarto um pó brilhante a pairar,
um pó de estrelas
ou simplesmente nada
nunca ninguém saberia
olhou-se
nua, prisioneira de um espelho baço
podia ficar ali para sempre
aguardar cada ruga, o apodrecer da própria carne
viva ou não
não importava
o vestido observava-a, sobre a cama, sem corpo
lançou-se sobre ele
abraçando-o contra si
saiu do quarto a correr, galgou a porta da rua,
percorreu as ruas da cidade
assim...
nua, como quem voa,
abraçada ao seu vestido de seda
selvagem
...
talvez de tristeza
com um toque de seda
não daquela seda lisa, domada
talvez de seda selvagem
vincos em desalinho
cantando a cada movimento do corpo
da que se faz percussão em noite de dança
perfumou-se
de solidão
o vestido sobre a cama, sem corpo
puxou os cabelos
talvez prendê-los
enlaçados em si mesmos
sem ganchos, sem brilhantes,
ou talvez soltos
selvagens como a seda
em desalinho a condizer consigo mesma
o vestido observa-a, sobre a cama, sem corpo
o espelho captura-a, atento, impávido
o seu corpo espera ordens, imóvel
podia desfazer-se naquele preciso momento
evaporar-se
deixaria no quarto um pó brilhante a pairar,
um pó de estrelas
ou simplesmente nada
nunca ninguém saberia
olhou-se
nua, prisioneira de um espelho baço
podia ficar ali para sempre
aguardar cada ruga, o apodrecer da própria carne
viva ou não
não importava
o vestido observava-a, sobre a cama, sem corpo
lançou-se sobre ele
abraçando-o contra si
saiu do quarto a correr, galgou a porta da rua,
percorreu as ruas da cidade
assim...
nua, como quem voa,
abraçada ao seu vestido de seda
selvagem
...
https://www.youtube.com/watch?v=HsHKWGHkH0M
domingo, 27 de julho de 2014
crónica da descartabilidade heterossexual
...
Engoli um analgésico, peguei na
última nota de vinte euros e pintei-me de modo a tapar todo o esforço que
estava a fazer. Se uma amiga faz anos e me convida, é importante para mim não
lhe faltar. Eu ficaria triste se me faltassem sem um bom motivo, principalmente
se ninguém aparecesse como eu suspeitava que lhe iria acontecer.
Amigos são
assim, às vezes não conseguimos suportá-los, não temos pedalada para as mesmas
coisas… às vezes magoam-nos. Mais tarde percebemos que provavelmente não
estamos isentos de culpa e lembramo-nos da importância da amizade, da gestão da
imperfeição de todos nós, procuramos um equilíbrio, mesmo que frágil.
Conversámos, conversámos sobre
temas inócuos, até que, inevitavelmente chegámos ao tema “amizade”. É aqui que
quero chegar. E arrependo-me, arrependo-me de ter ouvido a opinião dessa amiga,
que me diz que para ela as amizades passam, são temporárias, puf… acabam e não
quer mais saber disso, os amigos vão e vêm…
Que homens me digam que não
querem nada mais que uma curta aventura, ou que o façam entender, que depois
cada um vai à sua vida… a isso não só já me habituei como me tornei adepta. Mas
com uma mulher, uma amiga, ou que julgava eu ser amiga, pergunto-me, qual é o
objectivo? O que estou ali a fazer? É que nem sequer uma contrapartida sexual está
em questão…
...
Da existência exclusiva em horário de expediente
já disse e volto a dizer
quero morrer num sábado
assim, sem incomodar
se morrer num sábado
ninguém dará pela minha falta
evitam-se as homenagens
fúnebres
e a compra apressada das flores
que nunca antes recebi
só a partir de segunda-feira
vão dar pela minha falta
não vou atender o telefone
não vou responder ao email
não vou ver a conta bancária
nem fazer transferências
talvez nem pague a conta da luz
e terão que a vir cortar
e a renda
a renda ficará por pagar,
a roupa por estender,
não lembrarei os outros
dos assuntos que devem ser eles a
lembrar
e não vou actualizar o status do meu facebook
porque não vou cá estar para o
ler
e confirmar que minutos antes
estava suficientemente viva
para o escrever
domingo, 20 de julho de 2014
defunctorium
...
Estou de luto
De luto pela humanidade
Envergonha-me tanto sangue derramado
Tanta criança assassinada
Vidas sem amanhã
Pessoas reduzidas a cinzas
Tanto ego exaltado
Tanto luxo para tão poucos
E o poder
O poder nas mãos de falsos deuses
Empunhando os seus talheres de prata
Degustando em copos de cristal
As lágrimas dos que ficam e esperam
A sua hora
…Talvez depois da sobremesa
Estou de luto
De luto por mim, por nós todos
Por pactuarmos em silêncio, obtusos e impotentes
Com o dizimar de todo um futuro
... Enquanto não mudamos de canal
...
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