domingo, 20 de março de 2011

to be continued

...
A mulher caminha no passeio, vai pelo lado do Sol. Vai em passo
de corrida, como se fugisse do passado e pela frente só
o presente.
Bata velha, feia, cheia de nódoas, entra no bar.
De pé, ao balcão, pede uma cerveja. Loura, a cerveja e o seu cabelo tingido
de pinceladas. Foge do homem que deixou na cama. Foge do homem com quem casou.
Nesse tempo era loura, como o corpo da cerveja. O homem agora apodrece em vida, de doença e álcool. - Mulher, anda cá que eu quero fazer a minha vida! - Ela ia, ele fazia a sua vida, de urina, de fezes, de ejaculações desastradas. Fez-lhe filhos.
A espuma da cerveja, branca, as raízes dos seus cabelos, brancos e castanhos.
Atraídos pelo nectar, os mosquitos rondam o copo gelado e brilhante. Tira um lenço de pano, branco e sujo. Limpa as lágrimas, bebe mais um gole. Tremem o lábios.
As mãos gretadas, impregnadas da lixivia usada na limpeza das casas dos outros.
- Casei por amor. Tanto que me avisaram para não casar com ele! E eu até era bonita...
Do fundo da rua ouve-se o grito do homem: - Mulher, anda cá que quero fazer a minha vida!
Ela foi, correndo. O copo da cerveja ficou, vazio, sobre o balcão peganhento. A espuma da cerveja morta, rastos brancos no copo sujo.
Os mosquitos acabaram a festa.
...

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