quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

o dia em que não morri

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Morri. 
Todos os anos, em Janeiro, morro.
É um processo que começa ainda em Dezembro, antes do Natal. 
Na tontura e no frenesim da festa, na corrida para algo que vou perder e que receio nunca mais voltar a encontrar. O coração a cento e vinte pulsações por minuto, o relógio a avançar em direcção ao inevitável: o fim de mais um ano. O desalento perante a minha inabilidade para partilhar a euforia do momento. Aquele momento de consciência em que me pergunto se chegou a hora de pedir socorro. 
Desde que me lembro, que em Janeiro a vida se despede de mim. Sempre de forma brutal, tão brutal que eu mesma duvido se continuo viva, ou se morri. Ainda em Janeiro, perdida, procuro sinais. Sinais que me digam em que ponto estou, onde cheguei, ou pelo menos que me digam se estou morta, ou viva. É então que sou envolvida pelo silêncio e visto-me de solidão. 
Foi sempre em Janeiro que tomei grandes decisões, algumas até que implicavam viver ou morrer. Ir ou ficar. Aceitar ou abandonar.
Acabo sempre por renascer, mas de cada vez mais débil, cada vez menos corpo e cada vez mais cinza.
Não receio o dia em que não vou renascer, mas assusta-me o dia em que nunca vou morrer.
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