domingo, 21 de outubro de 2012

porque sim

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Agarrou-se àquela golfada de ar como se fosse a última. Previsível e irremediavelmente, esgotou-se. Não havia explicação, vieram de todo o mundo médicos e especialistas analisar o caso: vivia sem respirar. Cada noite de sono era velada como se fosse a sua última noite. Despedia-se dos cheiros, dos sons, das cores e dos afectos. Na manhã seguinte um esquadrão de técnicos e especialistas assistia ao despertar. Estavam equipados como todo o tipo de aparelhos para reanimação, caso fosse necessário. Acordava e perguntava, um a um se ainda vivia. Todos lhe respondiam que sim, só assim, a custo, acreditava. Passaram dias, meses, anos. Sempre o despertar era assim. À sua volta estava instalado um centro de operações, foi construído um laboratório. Sempre amanhecia perguntando se vivia, a cada um dos que a observava. Até que uma madrugada, após todos terem respondido afirmativamente, perguntou de novo: - Porquê? - E perguntou um a um. Respondiam em silêncio, um encolher de ombros, um aceno de cabeça. Apercebeu-se da presença de uma criança,  num canto do seu quarto. Fazia um desenho. Fez-lhe a pergunta e ela respondeu prontamente, sem parar de desenhar: - Porque sim! 

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