O Tejo vestiu prata, hoje. Cobriu de tule branco o pudor com que assistiu ao beijos que nos arrancámos nas suas margens. Os pilares da ponte suspensos. O Cristo-Rei a pairar, sem chão. Só nós, só os nossos lábios já sabendo a sangue. Afina-se a orquestra, no rio. Saltitam as aves marinhas, em busca de vida. Um barco anuncia-se... ou procura porto? Outro responde...
Esperamos a entrada do maestro, preparamos as mãos para os aplausos. Aos pés temos as correntes que nos prendem ao cais. Não sabemos a que nos seguram, não sabemos se as queremos. Porém, fomos nós que as inventámos. Para nos sentirmos seguros. Não bastam os beijos, não bastam lábios nem as nossas mãos. Um barco anuncia-se e não obtém resposta. O porto estará livre, ou simplesmente o mundo desertou? A âncora está a postos, só não a queremos usar ainda. Viver à deriva... sem amarras.
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