segunda-feira, 24 de junho de 2013

sem lua


...

Ouviu que se fez Lua.
Uma Lua grande e Cheia, rara de ver.
E fez-se Lua.
Pontualmente.

Banhou o mundo de luz, revelou na noite sombras de prata.

Tudo isto passou-se na sua imaginação, trancada no quarto mais escuro de si.

Sem olhos que a vissem, num grito mudo de dor, arranhou as paredes brancas.

Dedos em sangue, com eles desfez os contornos do rosto,
recordação esbatida de si,
o rosto que ninguém vê, esquecido nas andanças da vida,
perdido nas noites sem ciclo lunar.

Num tempo fora do seu tempo.

Desenhado, sem luz.

Muda, não se fez ouvir.
Cega de não ser vista.
Só não a abandonou a Lua que inventou para si e impossível de partilhar.
Abraçada pela solidão da sua loucura vã,
fez-se de lágrimas, de sangue, de vazio,
na noite de Lua extinta.

...

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