quarta-feira, 2 de outubro de 2013

... em sol menor



em fuga
procuro-me nas prateleiras de um supermercado, nas montras das lojas. Um sinal de que o mundo sabe da minha existência. Nem que para isso tenha que dar dinheiro ou oferecer a desconhecidos o que eu gostaria de um dia receber. Nem a casa dos espelhos numa feira consegue reflectir a ausência que carrego comigo.
cansada
encontro uma parede onde me encostar, aliviando por breves momentos o fardo da solidão.
deslizo, em direcção ao chão molhado e fico sentada. Olho o vazio e vejo os rostos que se dirigem noutras direcções, disfarçando o embaraço. Vão carregados de compras, presentes e embrulhos. fogem da chuva como se fosse ácida, tão ácida como a sua inconsciência.
adormeço
enquanto a noite desce, enquanto o burburinho é abafado pelo ruído de talheres longínquos em mesas próximas. Já comia qualquer coisa, quanto mais não fosse um fragmento do pensamento dos que passam.
- você! Sim, você! Não tem outro sitio para onde ir curtir a piela?
era comigo. Alguém falou comigo! Não respondi, já era tarde, instalava-se o rigor mortis e eu ainda viva.

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