sábado, 12 de junho de 2010
um bocadinho do que escrevi ontem...
"As lojas estavam fechadas, no banco de jardim perto da paragem de taxis, já aguardavam pela ceia os sem-abrigo do costume. Tão cedo? Mal amanheceu! Talvez agora também distribuissem pequeno almoço nas carrinhas de voluntários. Isso era bom!
Resolveu esperar pela abertura das lojas, só para entrar lá dentro e sentir o toque das roupas novas, o cheiro dos perfumes. Desceu a Guerra Junqueiro, e reparou que o sem abrigo que faz a cama junto à Zara ainda não tinha arrumado a "cama". Quando chegou ao fim da rua, a luz começou a escassear. Fez-se noite. Afinal a cama já estava feita. Na Almirante Reis, saiam dos autocarros mulheres com cheiro a lixivia, apressadas de regresso a casa. Em redor dos sem-abrigo, câmaras de filmar, pessoas com coletes reflectores a oferecer a única refeição: a ceia, composta do pão que mais ninguém quer comer e bolos fora de prazo.
Desconcertada, voltou para casa, não sem parar na Praça de Londres por debaixo de uma árvore iluminada, aí parou, ergueu o olhar para contemplar as pequenas luzes, semi cerrando os olhos, só para se sentir parte de um firmamento onde não existe amanhecer."
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