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(...) a noite afaga a cidade, coberta por um manto emprestado de escuridão e silêncio. Os jardins perdem as cores, ganham odores. Dos cantos obscuros surgem aqueles que a multidão não viu de dia. Conquistam os bancos, habitam-nos com as suas mantas e trapos. Do rio ouvem-se acordes de guitarra, uma voz limpa e afinada. Uma velha sobe a calçada, vergada pela dor. Negra, a calçada, negra, a velha, pele curtida pela vida, em dias de mais sol. Nem a própria sombra a acompanha. Pára. Faltam-lhe as forças para continuar a subida. Deixa-se escorregar, fica deitada sobre a calçada. Lembrou-se de um dia em que viu um sorriso, um olhar que banhou o seu. Sorriu, desejou nunca mais fechar os olhos e abalou. Não atrapalhou. O fado continuou.
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