domingo, 16 de maio de 2010

Amanhecer sem cor

Todos os dias pinto o céu. Têm-me faltado cores, tenho-o pintado sem cor, negro, um meio-dia de noite sem luar. As cores fogem de mim, insurgiram-se contra a minha criação de dias melhores. Procuram novas telas, e nem o chamamento da passarada nas árvores as convence de que aqui a pintora não é assim tão pouco merecedora. Vejo-me assim, perdida num tempo sem fim, paleta e pincéis nas mãos, perante uma tela nua, onde só se espelha a dor da solidão, a angústia desta noite que não há meio de terminar. Estúpida, acordo na manhã seguinte e repito os rituais, esperando que esse seja o dia em que me esborracho no muro dos outros, como insecto nojento e insignificante.

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