sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SO

O mundo não pára, por mais que às vezes me apeteça gritar: - Freeze! - como nos filmes. Ando pela multidão e vou sentindo o mundo de cada um. Quase tropeço em alguém e lamento ter evitado o acidente. Respiro o perfume caro da senhora com botas de salto agulha e pergunto que esforço de equilibrio será necessário para tal proeza. Bebo o café que depressa acaba por ser curto, de pé ao balcão, ao lado do empregado do banco de sempre, que toma o pequeno almoço. Depois, passeio do lado do sol, enquanto me faço acompanhar daqueles que me lembram: aquele que tem por hábito construir uma vida de momentos kodak. Está em constante actualização e de facto tem fotogenia para isso. Consegue construir com as suas fotos a pessoa que gostaria de ser, construindo personagens que gosta de apresentar a pessoas que ainda não conhece. É uma forma de existir para além daquilo que de facto é. Passo por uma montra , vejo no reflexo outro fantasma, aquele que vive sem viver, acordando sem vontade, tomando um comprimido e ficando sentado nos sofá, à espera que lhe passe a vida, pois essa é a sua maleita. Para compor o quadro, passa por mim a "louca do telémovel", versão modernizada da esquizofrénica que responde às vozes na sua cabeça via telemovel. Estas pessoas são o passado e o presente, não sei se serão também o futuro. São os fantasmas que me visitam diariamente e que me acompanham... ou apenas estarei só?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Primeiro post de 2009. Mudou o calendário, se tivesse agenda teria que a trocar. Acabou um dia e outro começou, todos falam sobre isso... terá sido milagre o surgir do dia 1 de Janeiro? Quem de nós se lembrou de assistir ao pôr-do-sol ontem? Quem de nós beijou aqueles que ama e os chamou pelo nome no dia 31 de Dezembro? Foi correr do trabalho para o supermercado, colocar na mesa alimentos que gostariamos durassem todo o ano, foi ler sms dirigidas a um punhado de números da mesma rede para ser mais barato, olhar a televisão, único relógio de precisão em que a nossa imaginação consegue acreditar. Depois, durante dez segundos, os últimos do ano, acreditamos que somos capazes de tudo, que tudo vai recomeçar, mas desta vez a sério, a valer. É o estrondo do espumante, os foguetes lá fora e o fogo de artificio, é emborcar a bebida, olhar em volta e ver que afinal nada começou. Mergulhamos na continuidade e só mudamos de rumo quando nos lembramos que afinal mudar não depende de um relógio mas de nós mesmos. No meio de tanto barulho e tanta luz, faltou perceber que a lua está em quarto crescente!