quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Silêncio! No hay banda"

O meu pai tocava numa banda. Trompete! De dia guardava rebanhos, de noite... tocava trompete! O meu pai costumava sonhar que voava. Enquanto guardava o seu rebanho, o diluvio voltava a acontecer, os campos inundavam, ele subia um chaparro no seu alentejo inundado... para não se afogar procurava um monte... olhava-o e... VOAVA na sua direcção. Contava-me a palavra VOAVA como se fosse essa a história toda do seu sonho, um brilho nos olhos meninos... Fazia-me acreditar que VOAR era possível... Um dia o meu pai VOOU... e eu brindo a ele e ao seu sonho. Esta madrugada eu aprendi a VOAR!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Roupa velha

Podia morrer hoje, sem sequer chegar a saber porquê. Podia ser atirada para os contentores a transbordar de papel, laços e restos de natal... nem os cães me comeriam, de barriga farta com os restos do banquete.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sonho de uma noite de Inverno... uma cerveja gelada

Fez-se Dezembro... porque sim. Arrumou-se o tempo... porque havia tempo para isso. O tempo é função entre a velocidade e a distância... A que velocidade quero ir? Para percorrer que distância? Nada disto fará sentido se não souber onde quero chegar... a Dezembro? Passas a correr por mim, não me dás tempo de acabar a frase: - Estou preocupada contigo!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Aqui jaz quem quase foi quase tudo, aqui jaz quem nada foi" Hoje não acordei. Ao passar pelo rio, uma ninfa sussurrou-me ao ouvido gestos de ternura, tocou-me com palavras de amor, promessas eternas... Hoje não vou acordar, assim não terei que adormecer de novo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

"... no one puts flowers On a flower's grave" Tom Waits + Kathleen Brennan

Quando dá à luz, a mãe golfinho leva a cria à superficie, para que respire. Nesse momento mágico, a mãe acaba de parir a cria para a vida, espera a alegria da vida. No entanto esta cria deu inicio a uma queda desamparada e indefesa para o fundo do mar... inanimada... inerte, nada mais que pequeno corpo. A mãe foi buscá-la ao fundo do mar, levando - a de novo à superficie... de mansinho largou-a, esperando o milagre. Não aconteceu. Não desistiu.Continuou longas horas na tarefa que lhe fora destinada, sem sucesso. Reuniram-se biólogos, etologos e demais cientistas para estudar o fenónemo, a mãe teria que parar, teria que se alimentar, continuar com a sua própria vida. O animal estava em perigo. Os poetas acharam que não... o perigo estava em retirar-lhe essa tarefa. Sabiam que não existem técnicas nem palavras mágicas que façam curar a dor da perda. De cada vez que aquele corpo sem vida era levado em busca da vida, a esperança renascia. De cada vez que procuro o sopro da vida naqueles que perdi renasce a sua memória e de tanto procurar aprendi que essa é agora a sua forma de vida.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A solidão tem muitas caras. Já conheci algumas e a que mais me marcou foi a solidão na dor. Imagino que seja a forma de solidão mais perto da morte. Lutar contra essa forma de solidão é uma batalha dificil de travar. Trava-la sem recrutar os que nos amam... mais dificil ainda. Meu amigo, fazes parte de quem sou, eu farei parte da tua dor e estarei ao teu lado para vencer essa solidão. As tuas próprias palavras são o teu mais grandioso tributo. ------------------------------------------------- Decadência de JO Decadência É essa a terra prometida? Uma pira de Deuses Aguarda-nos Quais cicerones fantasmas De uma cidade perdida. Cataléptico Imutável Subjugado Apenas esperando; Todos os Deuses morreram Fica apenas sozinho. O segredo está longe A vitória, não sei Existe? Nos olhos, as vezes, dança alegre Sobre a lava Uma réstia de vontade Depois, volta a sombra da decadência E a distância. Toda a existência não passa do reflexo De um momento. 8-9-09 Vítor Cohen Tourais ------------------------------------------------- O Corte O corte cirúrgico, cúmplice, Expôs a veia que transporta O sangue, que corre No sentido contrário à vida. Na esteira do infortúnio As entranhas do luto Pela mão perdida do tempo, Faz presença do ciclo da morte Na boca do abismo solitário Nutrido pelo amargo da alma. Sob a fenda da poesia Desenho a vida. Debaixo de uma fresta saturniana, Uma estonteante ditadura de letras Um suplício oxigenante De actividade poética Literária, Marca os desígnios do destino. 10-9-09 Vítor Cohen Tourais ------------------------------------------------ Observo Observo Espero, Na sombra da vida Espero o comboio As suas luzes sequenciais, Ritmadas Descompassadas. Observo Espero, Na sombra do tempo Intrínseco, Sem dormir até encontrar a resposta Às vezes fico tão desligado Que sou caçado Até à solidão. Observo Espero, Na obscuridade do sonho Dum pedaço de sonho, Nas sombras, Nos raios de energia cósmica, Prefiro morrer a transformar-me. Toca-me Sente-me Mata-me Olha-me Hoje não é mais que o amanhã de ontem Nas trevas. 8-9-09 Vítor Cohen Tourais ------------------------------------------------ Por detrás da Cortina Por detrás da cortina Não há sorrisos Apenas destino. Leva-nos numa estranha viagem Sem rumo fixo nem sentido. O Sanctum da alma Transporta fluidos etéreos Transforma o irreal Glorifica a cor Realiza a visão. O líquido da vida Revolta-se na serpentina do mago E o recém-nascido abençoa a criança Abre os braços em cruz e o coração Ilumina o palco. Palco dos livres Palco dos loucos Palco dos que pairam Sobre a vida, nocturna No sonho que se apaga Com o fecho da cortina. 9-9-09 Vítor Cohen Tourais ------------------------------------------------ Um Mundo de Sombras Um mundo de sombras Dos ciclos decifrados Que perecem em nada Na possibilidade de no fim Estar o começo (depois da morte) Mergulhar nas profundezas Da alma humana Apreciar os estádios mórbidos Da mente E os recônditos esconderijos do subconsciente Retalhados de terror e racionalidade, Que envolve a contemplação Próxima da morte; Sentimento de destruição Sentimentos caóticos, dor, Imensidão do vazio Conteúdos que abraçamos Numa forte carga emocional, Perturbadora, alucinante Conteúdo ilusório e complexo. Deixa a porta aberta Alcança o meu mundo fantástico Circundante do visionário Une o isolamento no quarto escuro, Intrépido acto de vaguear no peito aberto Frequentado (Corrosão do jardim mórbido) Pela consciência que espera A projecção do abismo que monograma a alma. 10-9-09 Vítor Cohen Tourais

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Taquicardias

O dia despede-se no ruído frenético invadindo as avenidas, sirenes reclamam prioridade. Pressa, pressa para ir para outro sitio. Mergulho na cidade, mergulho na pressa. Pressa de apanhar o futuro, pressa de apanhar aquele som que me inquieta. É o coração, uma taquicardia alucinante. Os meus passos seguem ao mesmo ritmo do coração, atropelam-se como o sangue que me percorre as veias e se engana no caminho, pulsando como um animal enjaulado. O ar frio nos pulmões, o peito rebenta de dor. O ritmo aumenta, atraído agora por outro idêntico, ensurdecedor. Com pressa, pressa de viver o futuro. A cidade engole o ruído dos motores, os corpos encontram-se. O som daqueles dois corações sufoca o mundo inteiro. Batem a uma voz. O sol escondeu-se e as cores refugiam-se no teu olhar. São os corpos que se bebem. As àrvores apropriam-se do teu odor. As aves procuram abrigo e adoptam a tua voz. Neste teu abraço o tudo é nada e o presente cumpre-se. Com as marcas do melhor amor que fiz, sou o rio que bebe as tua lágrimas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Santuário

O frio visita a cidade. Percorro as ruas iluminadas sem destino, sem pressa. Uma onda de frio beija-me o rosto. Fecho os olhos por instantes e esqueço-me do tempo certo para voltar a abri-los. Um sorriso, um rosto, uma memória. Aconchego-os no meu peito, envolvo-os nos meus braços. Vagueio pelas avenidas, passeio por ruas e becos. Passos perseguem-me como quem busca um culpado Apresso-me. Corro já, apertando cada vez mais contra o peito a memória do teu olhar, protegendo-a do tempo... Nunca me perdoaria se a perdesse.