quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A prova

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Acabarei... onde começa o mar.
Vivo como a maré numa força que me leva para longe,
envolta no frio odor que paira no ar.
Chama-me o abismo, as rochas fustigadas pelas ondas
o fascinio da escolha entre ir e ficar.
Serei onda, serei estrela do mar,
Cavalo marinho, coral ou apenas espuma
Ou sal...
Acabarei... onde começa o mar
sem vida ou SÓ... adormecida no areal
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sábado, 25 de setembro de 2010

Além ou os cogumelos mágicos

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Um dia o espelho cansou-se de esperar uma imagem que pudesse reflectir. Ganhou vida, tornou-se maleável, descolou-se da parede e percorreu toda a casa. Absorveu todas as imagens que encontrou, a casa deixou de existir, viu-se no meio da cidade. Numa corrida louca e trôpega de anos de inércia, percorreu a cidade, absorveu todas as pessoas por quem passou, os edifícios, os carros, o asfalto, pontes e barcos. Deu por si sem fôlego, debruçado sobre o mar... estava "onde a terra se acaba e o mar começa", a medo espreitou a linha do horizonte. Bastou para a absorver e quebrar por fim. Em mil pedaços tombou sobre as ondas iradas e fez-se areia levada pelas marés. Ninguém conseguiu explicar como ficou a imagem depois desse dia... sem horizonte.
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Paris, a pantera... cada dia é um dia de descoberta. Sonha que um dia alcançará a própria cauda.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

"...if I die"

Quanto mais vivo, mais morro... basta de procurar o tal lugar onde o céu não cai. A angústia luta contra as suas amarras e deixa-as frouxas. Por mais que fuja, só o cenário muda, eu não saio do mesmo lugar, do mesmo momento. Morro devagarinho, em cada lágrima que não consigo soltar.

sábado, 18 de setembro de 2010

Voo para Nunca

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Eu fico. Fico sempre. A minha vida é um cais.
Debruço-me sobre o rio, quase escorrego.
Aceno e não sei se cumprimento, se me despeço.
Todos partem, todos voltam, eu fico.
Um dia hei-de mergulhar. Partir e não voltar.
Serei capaz de me deixar afundar?
Ou subo até ao ponto mais alto daquela ponte.
Não vou, não fico, não parto...
será suficiente para me fazer voar?
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Paris

... ... A Paris é uma pequena pantera. O seu corpo esguio é a noite mais profunda da alma felina. Ainda bébé, brinca, imagina caçadas, esconde-se de um inimigo invisível. Ensaia uma vida de liberdade numa selva que desconhece e descobre por debaixo do armário. Só os olhos existem no canto escuro onde se aninha, brilham na noite do seu corpo pequenino. Acariciada ronrona e rebola, enquanto a brincadeira não a desperta do turpor do mimo. Se tivesse outra vida, queria ser Paris, a pequena pantera... ... ...

domingo, 12 de setembro de 2010

De vermelho, sem censura

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Pintei as unhas de vermelho. Achei que ficava bem assim a minha mão a passear em ti... Na doçura de orgasmos incontáveis... sem fim
Pintei os olhos de verde. Para que mergulhasses em mim, o teu abraço no meu corpo Na força com que me desejas e desaguas ...por fim
Pintei o meu corpo da cor do teu. Só para nos confundir, entrelaçados e de prazer baralhados Na dança de tontos que inventamos... e por fim rir
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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Alentejo: o inicio e o fim (?)

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A casa onde nasci perturba-me. Foi também a casa onde morreu a minha mãe. As noites nessa casa são mal dormidas, os pesadelos mais reais. No último destes pesadelos... sonhei que estava a dormir (?!). Nas costas, por cima da roupa da cama, senti arranhar, como quem chama, como quem pede para olhar para algo. A primeira reacção foi de sobressalto e logo de descanso - Ah! É a Mia que se aninha! Logo um salto na cama! A Mia não estava ali, tinha ficado em Lisboa! Quis acender a luz, sem saber como respirar, sem saber como me mexer... acordei e senti que a Mia me fazia falta...Foi nessa mesma casa que percebi que um dia podia perdê-la.
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sábado, 4 de setembro de 2010

... ... Faltas-me neste Setembro, no ar que mal respiro, no vento arrancando o meu vestido Faltas-me na água doce que me ampara A tua pele acalmando a dor da minha quando se rasga. Faltas-me na cor do meu segredo, na alegria de um olhar na amargura de um desencontro Faltas-me tanto nesse teu encanto e desejo escondido de me cantar e fazer sonhar uma volta ao mundo só para te ouvir... (e)terno vagabundo ... ...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

J'arrive!

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Esta noite sonhei-te, Paris! ... e voltei a sonhar...um sonho que só posso contar em letras pequeninas...
"Elle respirait, elle oubliait le froid, le poids des êtres, la vie démente ou figée, la longue angoisse de vivre et de mourir. Après tant d'années où, fuyant devant la peur, elle avait couru follement sans but, elle s'arrêtait enfin. En même temps, il lui semblait retrouver ses racines, la sève montait à nouveau dans son corps qui ne tremblait plus. Pressée de tout son ventre contre le parapet, tendue vers le ciel en mouvement, elle attendait seulement que son coeur encore bouleversé s'apaisât à son tour et que le silence se fit en elle. Les dernières étoiles des constellations laissèrent tomber leurs grappes um peu plus bas sur l'horizon du désert, et s'immobilisèrent. Alors, avec une douceur insupportable, l'eau de la nuit commença d'emplir Janine, submergea le froid, monta peu à peu du centre obscur de son être et déborda en flots ininterrompus jusqu'à sa bouche pleine de gémissements. L'instant d'après, le ciel entier s'etendait au-dessus d'elle, renversée sur la terre froide." (A.Camus)
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