...
Acordaste em mim
num Inverno que se fez quente
trocamos silêncios
infligimos (o)dores
não ouso dizer o quanto te desejei
não ouso pensar o quanto te amei
fiz de ti a minha pele
rasguei-nos em mil pedaços
amanheci-me nua e fria
de alma despida
não ouso contar quantas lágrimas chorei
não ouso contar quantas vezes gritei
morri e nasci vezes sem conta
inventei-me gaivota
voei embalada no vento
evitei as escarpas
fui abismo
fingi-me liberdade
no meu jeito de não te desaparecer
Acordaste fora de mim
nos Invernos que sobram e já não fazes quentes
não sei o que trocas
não sei os teus silêncios
fiz de ti o meu (o)dor
no meu jeito de não querer e esquecer
fiz-me nó,
na urgência de teSer
...
sábado, 26 de janeiro de 2013
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
na boca de cena
...
A sala ficou em silêncio. Baixaram-se as luzes. Subiu-se a cortina.
Firme e decidida, entrou em cena, pisando o palco de madeira esmagando o passado.
Silêncio absoluto.
O foco central acendeu-se sobre si. Ali estava, sem saber o que dizer. Inspirou, sentiu o pó no ar, o cheiro da maquilhagem. Cerrou os lábios, saboreando o batón vermelho. Fechou os olhos, ouviu a sua música e falou.
Falou, falou de tudo e de nada. Riu e chorou. Gritou e sorriu o seu melhor sorriso.
A luz quente envolvia o seu corpo. Finalmente voltara a sentir o corpo, os seus contornos. Foi assim que soube que ainda o tinha, foi assim que sentiu calor naquele Inverno.
Na plateia viu todas as caras que tinham feito parte da sua vida: os pais, os filhos, os amantes, os amigos e as amigas, os vizinhos a quem dizia sempre: - Bom dia!
- Bom dia! - era o seu texto
- Bom dia! - e esperava uma resposta do público, mudo.
- Bom dia! - disse encolhendo os ombros, deixando cair o final da frase, conformada com as ausências.
Agradeceu e saiu a correr.
Não se ouviram as palmas.
A sala estava vazia.
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A sala ficou em silêncio. Baixaram-se as luzes. Subiu-se a cortina.
Firme e decidida, entrou em cena, pisando o palco de madeira esmagando o passado.
Silêncio absoluto.
O foco central acendeu-se sobre si. Ali estava, sem saber o que dizer. Inspirou, sentiu o pó no ar, o cheiro da maquilhagem. Cerrou os lábios, saboreando o batón vermelho. Fechou os olhos, ouviu a sua música e falou.
Falou, falou de tudo e de nada. Riu e chorou. Gritou e sorriu o seu melhor sorriso.
A luz quente envolvia o seu corpo. Finalmente voltara a sentir o corpo, os seus contornos. Foi assim que soube que ainda o tinha, foi assim que sentiu calor naquele Inverno.
Na plateia viu todas as caras que tinham feito parte da sua vida: os pais, os filhos, os amantes, os amigos e as amigas, os vizinhos a quem dizia sempre: - Bom dia!
- Bom dia! - era o seu texto
- Bom dia! - e esperava uma resposta do público, mudo.
- Bom dia! - disse encolhendo os ombros, deixando cair o final da frase, conformada com as ausências.
Agradeceu e saiu a correr.
Não se ouviram as palmas.
A sala estava vazia.
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
inevitabilidade
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Há meses que usava as mesmas roupas. Desbotadas, no fio, justas ao corpo. A sua cintura reclamava espaço, os pulmões queriam respirar. Os seus, e os que transportava no ventre. Dormitava por vezes, acompanhava os movimentos das nesgas de sol que entravam pela cela. Até chegar a noite e o Sol lhe negar o seu calor. Também o Sol tinha direito a passar umas horas longe dela. Só ela não. Nunca se separava de si mesma. Nem antes de ter aquele coração a pulular dentro de si. De noite não conseguia dormir, sentia-se explodir, o ritmo de dois corações não lhe dava descanso. Acompanhava os ciclos da Lua sem os contar. Tinha a certeza que depois de uma Lua Nova, um Quarto Crescente viria. Era inevitável, por mais que desejasse quebrar aquele ciclo mágico. Com o tempo, o Sol deixou de brilhar entre as grades da sua prisão. Com o tempo, o ciclo da Lua tornou-se infernal. Com o tempo, mais corações bateram dentro de si. A Lua não parava, o tempo também não... e o Sol que não nascia. Exausta, deixou-se tombar. O seu corpo rebolava no chão, numa tentativa torpe de se contorcer. Quebrou finalmente o silêncio, gritou com toda a força que tinha, uivou à Lua, como um animal. Por fim, silêncio. Depois do fim, um princípio, um choro.
Despiu-se, queimou as roupas, passeou nua pela cidade, dançou leve e ágil pelas ruas. Livrou-se de si mesma.
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013
enxurrada
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Lágrimas não são chuva, nunca o foram, falta-lhes a fertilidade, o fim: a terra. Lágrimas desaguam em rios, entre gritos de angústia e dor. Deixam secos os corpos, abrem fendas nos rostos. Levam tudo consigo, até a alma. Deixam para trás os corpos onde já não se rasgam sorrisos, onde se rasga carne e nervo, onde se quebram os ossos. No fim, todos ficamos irremediavelmente sós, chafurdando na mesma lama, na esperança de nova enxurrada.
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
trapo velho
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sobes o fecho do meu vestido, num gesto seco e sem passado. Ias embora, mas voltas e olhas mais uma vez a minha imagem no espelho, vestida por ti.
seguras-me os ombros, o teu silêncio impede-me de partir.
os teus olhos nunca olharam os meus, apenas a sua imagem reflectida no espelho, como agora, vestida por ti.
arranco o fecho do vestido e rasgando-o, faço-o em trapos. Fica o espelho, vazio, despido de mim, vazio de ti.
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sobes o fecho do meu vestido, num gesto seco e sem passado. Ias embora, mas voltas e olhas mais uma vez a minha imagem no espelho, vestida por ti.
seguras-me os ombros, o teu silêncio impede-me de partir.
os teus olhos nunca olharam os meus, apenas a sua imagem reflectida no espelho, como agora, vestida por ti.
arranco o fecho do vestido e rasgando-o, faço-o em trapos. Fica o espelho, vazio, despido de mim, vazio de ti.
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