quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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Antes sequer de formar uma letra, risco, risco, risco, até se tornar claro o ruído do bico da caneta a raspar o papel. Não me interessa se a tinta é preta, se o papel é azul ou branco. Quero ouvir o raspar do bico da caneta no papel. Rasga-se a folha, não aguentou a força e a raiva contida na escrita que nunca o foi, nem palavra, nem letra, nem rabisco. Atiro a caneta contra a superficie dura da mesa, faz ricochete e cai ruidosamente no chão. Piso-a, esmago-a, não vá ela ganhar vida e escrever o que lhe vai na alma. Amachuco o papel, a folha fica amassada, uma bola que atiro contra o espelho partido. Mais uns estilhaços caem, ainda sobram uns tantos para outras expressões de raiva ou descrença. Fica o silêncio, contado pelo ponteiros do relógio desacertado. Não conto o tempo, não conto o tempo que passou, não conto o tempo que falta para um qualquer número redondo destinado a contar o tempo que te levou... que me levará a ti... que não me responde por que já te não tenho.

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