quinta-feira, 15 de março de 2012

Beijos e Abraços

Noite agitada de dor e insónia. Chega a manhã e desisto. Fujo, escondo-me do absurdo que me espreita e aguarda, contando cada minuto em que me atraso. Um desconhecido debruça-se sobre o meu esconderijo, algo familiar nele... Olhou-me nos olhos assustados e perguntou-me: - Tens algo que te pertença e perdure a ti mesma? Fixei a sua camisa negra. Quereria ele saber se tenho casas, carros, depósitos a prazo? Achar-me-ia imprudente. - Não, não tenho. Segurou-me a mão, com força: - Tens algo que te pertença e te perdure? Lembrei-me dos meus filhos, olhei-o e disse-lhe em silêncio: Os meus filhos perdurarão, mas não me pertencem!  - Então, o que tens tu, Ana? - Nada! Respondi. - Isso basta-te? Responde, Ana, isso basta-te? - Basta! Respondi num grito de dor rasgada. O desconhecido pegou-me na mão, abraçou-me, balbuciando: - Temos tempo, este abraço só acaba quando te bastar. Atravessámos o longo jardim, nesse abraço. Chegados à cidade, procuro beijá-lo. O desconhecido evita-o: - Não, Ana, só um abraço. Beijos não te pertencem. E pergunto: algum deles perdurará?

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