sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Tempo pergunta ao Tempo quanto Tempo o Tempo tem

Vejo o Sol esconder-se e lembro-me daquela tarde de Fevereiro, uma viagem inesperada, a caminho da morte. Levava-me o carro, sabia o caminho. O meu olhar preso ao pôr-do-Sol. Assolava-me a certeza assustadora de que a pessoa que me esperava nunca mais o veria, a suspeita de que na véspera ela não se lembrara de o ver uma última vez. Ver o Sol esconder-se por detrás dos montes verdejantes do Alentejo é algo que devia marcar a nossa despedida desta vida. É tudo uma questão de Tempo. Traiçoeiro passa por nós, mergulha-nos numa amnésia de si mesmo. Passamos o Tempo a "matar" o Tempo, quando afinal é o Tempo que nos mata e nos faz nascer. Não existem horas, meses nem anos, não conto assim o Tempo que passa pela morte, nem o Tempo que passa por nós. Não tenho idade, os meus amigos não têm idade: eu vivo, os meus amigos vivem. Única certeza que quero perpétuar, sem Tempo.

1 comentário:

Ricardo Lopes Moura disse...

gostei e vou continuar a ler-te.