sexta-feira, 22 de junho de 2012

eterna

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Renasceu. Tudo não passou de um engasgo de alma. Renasceu. E não foi bom. Por mais que a tosse sacudisse a sensação de perda, não conseguia espaço suficiente para respirar de novo. Sentia os olhos húmidos, o corpo esmagado, dilacerado. A pele parecia ter-se queimado e nascido de novo. Nenhuma dessas sensações era boa. Fechou os olhos, evitou tossir durante uns segundos. Procurou na escuridão que criou em si, uma recordação, uma memória, uma pequena história. Como chegou ali? Conseguiria recordar um prado de flores? Um toque macio na pele? Vazia. A sua alma estava vazia, renascida, sem ódios mas também sem amor. Parou de tossir, de nada servia, aquele era o ar que agora tinha para respirar. Sentiu uma gaze áspera secar-lhe os olhos. - Está a chorar? Não respondeu. Ficou zangada por renascer num mundo onde não pára de morrer.

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