segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

na boca de cena

...

A sala ficou em silêncio. Baixaram-se as luzes. Subiu-se a cortina.

Firme e decidida, entrou em cena, pisando o palco de madeira esmagando o passado.

Silêncio absoluto.

O foco central acendeu-se sobre si. Ali estava, sem saber o que dizer. Inspirou, sentiu o pó no ar, o cheiro da maquilhagem. Cerrou os lábios, saboreando o batón vermelho. Fechou os olhos, ouviu a sua música e falou.

Falou, falou de tudo e de nada. Riu e chorou. Gritou e sorriu o seu melhor sorriso.


A luz quente envolvia o seu corpo. Finalmente voltara a sentir o corpo, os seus contornos. Foi assim que soube que ainda o tinha, foi assim que sentiu calor naquele Inverno.


Na plateia viu todas as caras que tinham feito parte da sua vida: os pais, os filhos, os amantes, os amigos e as amigas, os vizinhos a quem dizia sempre: - Bom dia!

- Bom dia! -  era o seu texto

- Bom dia! - e esperava uma resposta do público, mudo.

- Bom dia! - disse encolhendo os ombros, deixando cair o final da frase, conformada com as ausências.


Agradeceu e saiu a correr.

Não se ouviram as palmas.

A sala estava vazia.

...

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