quarta-feira, 3 de abril de 2013

espelho meu

...

Ajeitou o cabelo, a gola da camisa, os punhos do casaco.
Olhou-se como se fosse olhada
com um sinal de aprovação, deu um passo para o lado, afastando-se,
inclinou-se para trás, certificando-se de que a imagem também se afastava.
Não podia esquecer-se dela, depois de tanto trabalho a aprimorar-se.

Enfeitada, foi para a rua. Procurava dois olhos,
dois olhos que a vissem, duas mãos que a afagassem.
Mais nada.

Caminhou durante horas, até chegar ao lago.
Olhou o fundo do lago como se ele a olhasse.
Acenou, dando um passo em frente, molhando os folhos da saia.
Inclinou-se sobre a água, molhando as mãos, mergulhando os punhos.
Procurava a imagem, a que julgava ter trazido consigo e ficou para trás.
Não a reconhecia, depois de tanto esforço para mudar,
para se afogar.

Flutuava sob o céu, sobre a água. Procurava a imagem
a imagem que a abandonara, numa bofetada imaginada.
Mais nada.
...

Sem comentários: