sábado, 16 de agosto de 2014

...
Não sabia de que se vestir
talvez de tristeza
com um toque de seda
não daquela seda lisa, domada
talvez de seda selvagem
vincos em desalinho
cantando a cada movimento do corpo
da que se faz percussão em noite de dança
perfumou-se
de solidão
o vestido sobre a cama, sem corpo
puxou os cabelos
talvez prendê-los
enlaçados em si mesmos
sem ganchos, sem brilhantes,
ou talvez soltos
selvagens como a seda
em desalinho a condizer consigo mesma
o vestido observa-a, sobre a cama, sem corpo
o espelho captura-a, atento, impávido
o seu corpo espera ordens, imóvel
podia desfazer-se naquele preciso momento
evaporar-se
deixaria no quarto um pó brilhante a pairar,
um pó de estrelas
ou simplesmente nada
nunca ninguém saberia
olhou-se
nua, prisioneira de um espelho baço
podia ficar ali para sempre
aguardar cada ruga, o apodrecer da própria carne
viva ou não
não importava
o vestido observava-a, sobre a cama, sem corpo
lançou-se sobre ele
abraçando-o contra si
saiu do quarto a correr, galgou a porta da rua,
percorreu as ruas da cidade
assim...
nua, como quem voa,
abraçada ao seu vestido de seda
selvagem
...

https://www.youtube.com/watch?v=HsHKWGHkH0M

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